Resumo

Objetivos: A saúde oral é essencial no bem-estar infantil sendo relevante a influência parental, particularmente em idade precoce. A literacia e o conhecimento em saúde oral são críticos nos resultados de saúde, sendo que níveis mais baixos nos pais/cuidadores parecem estar associados a uma pior saúde oral infantil. Este estudo teve como objetivo avaliar estas vertentes, aferindo igualmente das práticas de pais/cuidadores de crianças entre 0-3 anos, em correlação com variáveis sociodemográficas. Materiais e métodos: Estudo observacional transversal (fevereiro - maio 2025) com uma amostra de pais e cuidadores (seleção por conveniência e em bola de neve) que cumpriram o preenchimento online de um questionário composto de parâmetros de natureza sociodemográfica e comportamental, sendo aplicando concomitantemente, de forma física, presencial, o REALD-29 PT, instrumento específico validado para a população portuguesa, com estrito cumprimento ético. Para a organização e análise de dados recorreu-se ao IBM SPSS Statistics (versão 29.0.1), aplicando- se testes estatísticos não paramétricos atendendo à distribuição da amostra, e análise bivariada, com valor de p<0.05 considerado estatisticamente significativo. Resultados: Cumpridos os requisitos de inclusão obtiveram-se 86 respostas (n=86). 62,8% dos participantes entre 31 e 40 anos, 77,9% do sexo feminino, 90,7% de nacionalidade portuguesa, 62,8% residentes em área urbana e 89,5% com ensino médio ou superior completo. Embora a maioria dos participantes tenha revelado uma adequada literacia em saúde, persistiram lacunas ao nível do conhecimento (conceitos distintos). As mais preocupantes foram acerca do momento da 1ª consulta e a importância do tratamento dos dentes decíduos. Elevada literacia associou-se a níveis de escolaridade superiores, profissões de saúde e residência urbana. Porém, apenas ser profissional de saúde revelou-se associado significativamente (p<0,001) a melhor conhecimento prático. Foi identificada uma correlação positiva moderada entre os resultados da literacia e do conhecimento em saúde oral. Conclusões: Destaca-se um paradoxo importante: apesar de níveis de literacia em saúde oral considerados adequados, uma parte considerável revelou falta de conhecimentos práticos, sugerindo que a literacia, por si só, não garante comportamentos consequentes em termos práticos, sublinhando a necessidade de programas educativos com apoio profissional que transformem a informação em ações concretas de prevenção.