Resumo

Introdução: As lesões endo-periodontais afetam simultaneamente a saúde periodontal e pulpar, apresentando etiologias e mecanismos patogénicos distintos, o que dificulta o diagnóstico e o estabelecimento de um prognóstico. O tratamento destes casos exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo as áreas periodontal, endodôntica e reabilitadora. Este trabalho visa debater a gestão de uma lesão endo?periodontal. Descrição do Caso Clínico: Paciente do sexo feminino, 54 anos, sem antecedentes médico relevantes, apresentou- se com desconforto gradual no dente 37, após exodontia de dente 38, tendo sido encaminhada pelo departamento de Periodontologia. O exame clínico revelou a presença de uma restauração vestibular, descoloração coronária e sondagem profunda superior a 12 mm nas faces distal, vestibular e lingual. O teste de percussão foi positivo, e o teste de sensibilidade ao frio revelou resposta positiva, mas tardia, em comparação com os dentes adjacentes. O exame radiográfico e tomográfico evidenciaram uma extensa perda óssea e lesão periapical. O diagnóstico estabelecido foi pulpite irreversível assintomática, periodontite apical sintomática e lesão periodontal primária com envolvimento endodôntico secundário. O plano de tratamento proposto à paciente foi o tratamento endodôntico, com posterior recobrimento cuspídeo. A instrumentação foi realizada com o sistema Protaper Ultimate e irrigação com hipoclorito de sódio 5,25% e ácido cítrico 10%, ativados sonicamente com Endoactivator. A obturação foi realizada com recurso a cimento de resina epóxi (AH Plus), com plug de MTA na raiz distal (ProRoot MTA) e técnica de obturação de onda continua de condensação nos restantes canais. Posteriormente, foi efetuado tratamento periodontal cirúrgico. Ao fim de um ano, observou-se imagem periapical compatível com remodelação óssea. Discussão e Conclusões: Com a progressão das lesões periodontais, canais laterais e acessórios podem expor-se ao meio oral, podendo levar á inflamação crónica e irreversível do tecido pulpar. No caso de lesões periodontais primárias com envolvimento endodôntico secundário, o prognóstico depende do sucesso da terapia periodontal, após resolução da patologia pulpar. No entanto, não há um consenso quanto ao intervalo ideal entre os tratamentos endodôntico e periodontal. É importante destacar o uso de ampliação e exames imagiológicos de alta resolução para aumentar a previsibilidade clínica.