Resumo

Introdução: A doença celíaca é uma doença autoimune que ocorre em pacientes geneticamente predispostos e afeta cerca de 1% da população mundial. Para além das suas manifestações intestinais, esta condição pode ainda cursar com alterações ao nível da cavidade oral, como atraso na erupção dentária e/ou presença de defeitos de estrutura do esmalte, estes últimos com uma prevalência entre 38-83%, afetando mais frequentemente a dentição permanente. A abordagem destes defeitos pode ser realizada com recurso a uma técnica de infiltração com resinas de baixa viscosidade, que penetram em profundidade e preenchem os defeitos de estrutura. Sendo uma técnica minimamente invasiva, pode também ser aplicada em lesões de cárie incipientes, não cavitadas, evitando assim o uso das técnicas convencionais. Aquando da decisão terapêutica, devem considerar-se sempre as características clínicas dos defeitos, como profundidade, cor e tamanho dos mesmos. Descrição do Caso Clínico: O caso refere-se a um paciente do sexo masculino, com 14 anos de idade, diagnosticado com doença celíaca. Os dentes do 2º sextante apresentavam defeitos de estrutura com um significativo impacto estético, situação referida pelo próprio paciente. Perante a maior profundidade e coloração amarelada de algumas das lesões, optou-se por aplicar hipoclorito de sódio a 5% de forma ativa, durante 2 minutos, repetidamente, verificando-se imediatamente melhoria da coloração. Após 2 semanas, realizou-se a segunda parte do tratamento, iniciada com macroabrasão com recurso a jato de óxido de alumínio, seguida da aplicação da resina infiltrativa ICON® e posterior restauração dos dentes 22 e 23 com resina composta. Os resultados imediatos revelaram-se muito satisfatórios, cumprindo os requisitos estéticos e funcionais. Discussão e Conclusões: As alterações de estrutura comportam um impacto estético significativo no sorriso dos pacientes e, por isso, e sobretudo em pacientes pediátricos, é importante recorrer a abordagens minimamente invasivas, como a utilização de resinas infiltrativas de baixa viscosidade. Estas podem ainda ser coadjuvadas por técnicas de micro e macroabrasão e/ou restauração com resina composta, dependendo das características dos defeitos de estrutura. Uma das limitações desta técnica prende-se com a dificuldade em estabelecer um correto diagnóstico da etiologia na base de ocorrência dos defeitos, tipo e profundidade dos mesmos, dado que o seu sucesso se encontra também dependente destes fatores.