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Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial

SPEMD | 2017 | 58 (4) | 236-240




Caso ClÍnico

Cisto paradental: Relato de caso clínico

Paradental cyst: A case report


a Mestrado de Clínica Odontológica Integrada da Universidade de Uberaba, Uberaba, MG, Brasil
b Curso de Odontologia da Universidade de Uberaba, Uberaba, MG, Brasil
Rafael J. S. Rodrigues - rafaeljsrodrigues@gmail.com

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Volume - 58
Issue - 4
Caso ClÍnico
Pages - 236-240
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Received on 07/11/2017
Accepted on 02/02/2018
Available Online on 26/02/2018


Caso Clinico

 

Cisto paradental: Relato de caso clínico

Paradental cyst: A case report

 

Rafael J. S. Rodriguesa,*, Janayna A. dos Reisb, Michelle C. da Cunhab, Marcelo S. de Araújoa,b

aMestrado de Clínica Odontológica Integrada da Universidade de Uberaba, Uberaba, MG, Brasil

bCurso de Odontologia da Universidade de Uberaba, Uberaba, MG, Brasil

 

*Correspondence to:

 

http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2017.02.210

 

RESUMO

O cisto paradental (CP) ocorre próximo à margem cervical lateral de uma raiz dental, como consequência de um processo inflamatório oriundo de uma bolsa periodontal. Os autores revisam a literatura e descrevem o caso de uma paciente que apresentou um CP envolvendo um terceiro molar inferior parcialmente erupcionado. Embora raramente possa envolver os tecidos orais, o médico dentista deve reconhecer as manifestações clínicas e radiográficas do CP, para colaborar no seu diagnóstico precoce e também no seu tratamento.

Palavras-chave: Cisto paradental, Cistos odontogênicos, Tratamento

 

Abstract

The paradental cyst (PC) occuring near the cervical margin of the lateral aspect of the root as a consequence of an inflammatory process in a periodontal pocket. The authors review the literature and describe the case of a patient with PC involving a partially erupted third mandibular molar vital tooth. Although this disease rarely affects oral tissues, dentists must recognize its clinical and radiographic manifestations to help in early diagnosis and in the treatment.

Keywords: Paradental cyst, Odontogenic cysts, Treatment

 

http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2017.02.210

 

Introdução

Inicialmente descrito por Main em 1970, 1, 2 e definido em 1992 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “um cisto ocorrendo próximo à margem cervical lateral de uma raiz dental, como consequência de um processo inflamatório oriundo de uma bolsa periodontal”, o Cisto Paradental (CP) foi classificado como um cisto odontogénico inflamatório juntamente com o cisto radicular.3 A terminologia do CP foi revista na última edição da Classificação dos Tumores de Cabeça e Pescoço (4.ª ed), publicada em 2017 pela OMS, classificado no grupo de Cistos Inflamatórios Colaterais.4

Dentre as características clínicas do CP está a presença de um constante processo inflamatório periodontal ou pericoronarite.

Poucos sinais e sintomas são apresentados, incluindo desconforto, sensibilidade, dor moderada e supuração através do sulco periodontal. 2 , 5 Alguns casos são assintomáticos e diagnosticados radiograficamente de forma inesperada,6 enquanto que outros permanecem indetectáveis clinicamente e radiograficamente por um longo período.7

O CP ocorre geralmente na face vestibular ou distovestibular de um dente parcialmente ou completamente irrompido 8 , 9 e raramente na face mesial. 3 , 10 A maioria dos casos descreve o CP em relação ao terceiro molar inferior, 2, 3, 7, 9, 11 embora possa ocorrer tanto no primeiro ou segundo molares, 10 , 12 sendo raro em incisivos, caninos13 e pré‑molares.8

Radiograficamente a lesão apresenta imagem radiolúcida bem definida simulando uma doença periapical ou periodontal, envolvendo uma ou ambas as raízes dos dentes 7 , 12 ou uma reabsorção óssea com aspeto semilunar. 11 , 13 O ligamento periodontal e a lâmina dura estão intactos e contínuos ao redor da raiz pelo fato do componente inflamatório não ser de origem endodôntica. 14, 15, 16

O CP não pode ser diferenciado histopatologicamente de outros cistos odontogénicos de origem inflamatória. 7, 8, 16, 17 A cápsula de tecido conjuntivo exibe grande infiltração inflamatória, sendo revestida por epitélio escamoso estratificado não queratinizado hiperplásico. 2, 3, 7, 8, 11, 13, 17, 18

A prevalência do CP varia de 1% a 5% de todos os cistos odontogénicos, 7, 11, 18, 19 o que justifica sua inclusão no grupo de lesões raras. 8, 20 Acredita‑se que o CP seja mais comum do que relatado na literatura, considerando a alta incidência de processos inflamatórios periodontais na região de terceiros molares. 2, 11, 21, 22

O propósito do presente trabalho é relatar os achados clínicos, radiográficos e histológicos de um caso de CP associado a um terceiro molar inferior.

Caso clinico

Paciente do género feminino, 25 anos de idade, leucoderma, procurou a Policlínica Odontológica Getúlio Vargas do Curso de Odontologia da Universidade de Uberaba, para a exodontia dos terceiros molares.

Após a obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pela paciente, procedeu‑se com a anamnese, exame físico extra e intrabucal. A paciente relatou não apresentar problemas sistémicos e ao exame físico extrabucal não foram encontradas alterações. No exame físico intrabucal observou‑se que o dente 38 estava parcialmente erupcionado e exibia na face distal área eritematosa circunscrita e edemaciada.

Ao exame radiográfico foi observada uma reabsorção óssea em formato semilunar radiotransparente de aproximadamente 0,5 cm na distal da coroa do dente 38, com seu término próximo à junção cemento‑esmalte (Figura 1).

 

 

Foi aplicado o teste de sensibilidade pulpar nos dentes 36, 37 e 38, que responderam positivamente, excluindo a possibilidade da lesão ser de origem pulpar.

As hipóteses diagnósticas foram de hiperplasia do folículo pericoronário, bolsa periodontal, cisto dentígero (CD), Cisto Paradental, tumor queratocisto odontogénico, ameloblastoma e cisto gengival.

Foi realizada a exérese da lesão e exodontia do dente 38. O material obtido foi fixado em formol a 10% e enviado para exame anatomopatológico (Figura 2).

 

 

Os cortes histológicos revelaram cápsula de tecido conjuntivo fibroso invadido por infiltrado inflamatório linfocitário, e epitélio escamoso estratificado não queratinizado com características hiperplásicas (Figuras 3, 4 e 5), resultando em um diagnóstico final de CP. A paciente vem sendo acompanhada periodicamente há mais de cinco anos e não apresenta sinais de recidiva da lesão, conforme mostra a Figura 6.

 

 

 

 

 

Discussão e conclusões

Apesar do CP ser considerado uma lesão rara, acredita‑se que esta lesão vem sendo mal diagnosticada. O CP pode ser diagnosticado como um CD, cisto radicular lateral, ou como pericoronarite e outras entidades relacionadas a condições inflamatórias do folículo dental. 2, 5, 6, 7, 18 O CP é considerado um tipo de cisto de inclusão que surge em uma bolsa periodontal, com possível origem no epitélio juncional/sulcular da gengiva.23

Em sua maioria o CP ocorre no terceiro molar inferior, menos frequente no segundo e primeiro molares e raramente nos pré‑molares e incisivos e caninos. 2, 3, 7, 8, 9, 11, 14

Afeta a superfície distal de terceiros molares inferiores parcialmente irrompidos na posição vertical ou ligeiramente disto‑angular, 3, 8, 10, 11 como no caso apresentado neste trabalho.

As formas assintomáticas de CP ou aqueles diagnosticados radiograficamente de forma inesperada,6 que permanecem indetectáveis clinicamente e radiograficamente por um longo período podem ser uma armadilha,7 como ocorrido no presente caso, no qual a lesão não havia sido identificada devido à ausência de sintomatologia.

As radiografias convencionais são rotineiramente utilizadas como o primeiro nível de diagnóstico por imagem, porque estão amplamente disponíveis em um baixo custo. No entanto, limitações técnicas podem ocorrer em muitos casos, sendo geralmente indicado, um teste de diagnóstico complementar como a Tomografia Computadorizada e/ou a Ressonância Magnética.24

A imagem radiográfica do CP é caracterizada por uma transparência bem definida, simulando uma doença periapical ou periodontal 7, 12 ou uma reabsorção óssea com aspecto semilunar.11 No caso descrito, o exame radiográfico revelou uma transparência distal adjacente à coroa do dente 38, delimitado pela junção cemento‑esmalte, sugestiva de CP.

Neste caso clínico fica evidente que o CP pode ter surgido da parede de uma bolsa periodontal, já que a teoria mais aceita para a origem deste cisto é a partir do epitélio reduzido do esmalte 1, 2, 3 que forma a lesão periodontal. A localização da cavidade óssea, a erupção parcial do dente, o processo inflamatório gengival e a imagem radiográfica levou a hipótese diagnóstica de CP, que foi confirmada pela análise histológica.

Os achados histológicos do presente caso, onde um epitélio escamoso hiperplásico foi visto, além de um tecido conjuntivo inflamado, entre outras características histológicas, 2, 3, 7, 8, 11, 13, 18 permitiu a exclusão quanto ao diagnóstico de inflamação ou hiperplasia do folículo pericoronário, tumor queratocisto odontogénico, ameloblastoma, cisto gengival, cisto dentígero e outros tumores odontogénicos.

As características histopatológicas do CP são idênticas ao cisto radicular, o que torna o teste de sensibilidade pulpar importante no diagnóstico diferencial. 8, 16, 17 No dente envolvido com a lesão de CP deste trabalho, o teste de sensibilidade pulpar foi aplicado sendo positiva a vitalidade do dente em questão, descartando assim a possibilidade de ser um cisto radicular.

O exame histopatológico dos cistos paradentais revela uma cápsula cística alinhada por um epitélio escamoso estratificado esponjoso hiperplásico, não queratinizado, de diferentes espessuras. A cápsula é composta de tecido conjuntivo fibrovascular apresentando vasos hiperémicos, hemorragia em áreas focais, infiltrado de células inflamatórias crónicas e vasos sanguíneos, 25, 26 estando em conformidade com os achados histológicos do presente caso.

O tratamento de escolha para o CP em terceiros molares é a remoção cirúrgica da lesão e do dente, 7, 11, 21, 22 conforme foi realizado no presente caso. A enucleação da lesão com a manutenção do dente associado pode ser indicado quando o primeiro ou segundo molares estão envolvidos. 1, 2, 8 Em todos os casos, a incidência de recidiva é rara, desde que a lesão tenha sido completamente removida, 3, 12, 20 facto este que não ocorreu no caso apresentado.

Diante do caso clínico relatado, observou‑se que a correlação clinicopatológica e a incorporação dos resultados cirúrgico, radiográfico e histológico são fundamentais para obtenção de um diagnóstico adequado para o Cisto Paradental.

Este estudo ressalta a importância do tratamento adequado dos casos de pericoronarite e da atenção aos cuidados de higiene bucal em dentes com erupção parcial, pois o cisto paradental pode ser prevenido.

 

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*Corresponding author:

Rafael J. S. Rodrigues

Correio eletrónico: rafaeljsrodrigues@gmail.com

 

Responsabilidades eticas

Proteção de pessoas e animais. Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Confidencialidade dos dados. Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.

Direito a privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência está na posse deste documento.

 

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

Historial do artigo:

Recebido a 7 de Novembro de 2017

Aceite a 2 de Fevereiro de 2018

On-line a 26 de Fevereiro de 2018