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Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial

SPEMD - Revista Portuguesa de Estomatologia Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial | 2024 | 65 (1) | 52-56




Caso ClÍnico

Técnica de janela óssea na enucleação de cisto mandibular com piezoelétrico: Relato de caso

Bone window technique in the enucleation of mandibular cysts using a piezoelectric device: Case report


a Universidade Estadual de Londrina – UEL, Londrina, PR, Brasil
b Programa de pós-graduação em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná – HU/UEL, Londrina, PR, Brasil
c Departamento de Medicina Oral, Universidade Estadual de Londrina, Preceptora do Serviço de pós-graduação em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná– HU/UEL, Londrina, PR, Brasil
João Vitor Pereira - joao.vitor.pereira@uel.br

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Volume - 65
Issue - 1
Caso ClÍnico
Pages - 52-56
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Received on 23/10/2023
Accepted on 24/02/2024
Available Online on 25/03/2024


10.24873/j.rpemd.2024.03.1209

Caso Clnico

Tcnica de janela ssea na enucleao de cisto mandibular com piezoeltrico: Relato de caso

Bone window technique in the enucleation of mandibular cysts using a piezoelectric device: Case report

Joo Vitor Pereira1,* 0000-0001-5937-0995

Karoline Von Ahn Pinto2 0000-0003-3808-6017

Las Albuquerque Fernandes2 0000-0002-4729-7185

Ligia Pozzobon Martins3 0009-0009-1038-1920

Ceclia Luiz Pereira Stabile3 0000-0003-1188-2769

1 Universidade Estadual de Londrina UEL, Londrina, PR, Brasil.

2 Programa de ps-graduao em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital Universitrio Regional do Norte do Paran HU/ UEL, Londrina, PR, Brasil.

3 Departamento de Medicina Oral, Universidade Estadual de Londrina, Preceptora do Servio de ps-graduao em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Hospital Universitrio Regional do Norte do Paran HU/UEL, Londrina, PR, Brasil.

*Correspondncia:

Historial do artigo:

Recebido a 23 de outubro de 2023

Aceite a 24 de fevereiro de 2024

On-line a 25 de maro de 2024

Resumo

O cisto dentgero pode ser classificado como cisto de desenvolvimento ou inflamatrio, originando-se durante o processo de separao do folculo que fica aprisionado ao redor da coroa de um dente incluso. O objetivo do presente artigo relatar um caso clnico de enucleao de cisto dentgero em corpo mandibular esquerda associado ao primeiro molar inferior (36) incluso com envolvimento do nervo alveolar inferior atravs da tcnica cirrgica de janela ssea por meio da piezocirurgia. Paciente de 19 anos, sexo masculino, sem comorbidades, com leso hipodensa, circunscrita, de aproximadamente 15,5 x 27,7 x 14,8 mm identificada em tomografia de feixe cnico. A tcnica de janela ssea executada apresenta como vantagem o reposicionamento do segmento sseo deslocado no transoperatrio, favorecendo o processo de reparo, alm do acesso direto rea contendo a leso cstica e o elemento incluso.

Palavras-chave: Cisto dentgero, Medicina oral, Osteotomia,Piezocirurgia

Abstract

A dentigerous cyst can be classified as a developmental or inflammatory cyst. It originates during the process of separation from the follicle that becomes trapped around the crown of an impacted tooth. The purpose of this article is to report a clinical case of enucleation of a dentigerous cyst in the left mandibular body associated with the impacted lower first molar (tooth 36), with involvement of the inferior alveolar nerve, through the bone window surgical technique using piezosurgery. A 19-year-old male patient with no comorbidities presented with a well-defined hypodense lesion of approximately 15.51mm X 27.69mm X 14.79mm in diameter, as identified by cone-beam tomography. The bone window technique performed offers the advantage of repositioning the bone segment displaced during surgery, promoting the repair process, and providing direct access to the area containing the cystic lesion and the impacted tooth.

Keywords: Dentigerous cysts,Oral medicine,Osteotomy,Piezosurgery

Introduo

O cisto dentgero o tipo mais comum de cisto odontognico, podendo ser classificado como cisto de desenvolvimento ou inflamatrio. Essas estruturas se originam dos tecidos epiteliais do dente ou de resqucios embrionrios, como os restos epiteliais de Malassez, os restos de Serres ou o rgo do esmalte, qu podem ficar presos nos tecidos sseos ou gengivais. 1 A leso associada coroa do dente incluso, apresentando um acmulo de material lquido ou semisslido entre o epitlio e a coroa do dente. Os cistos dentgeros correspondem a cerca de 17 a 20% dos cistos que ocorrem na regio dos maxilares.

Trata-se de uma leso benigna, unilocular, cujos contorno so facilmente identificveis em radiografias. Seu crescimento lento e resulta em contornos esclerticos e crtex bem definidos. Essa leso pode promover o deslocamento do dente de sua posio normal, especialmente nos casos de terceiros molares, podendo fazer com que o dente seja deslocado para a base de mandbula e consequentemente, envolver o nervo alveolar inferior.2 - 4

O cisto dentgero de desenvolvimento possui uma cpsula de tecido conjuntivo fibroso, com substncia fundamental amorfa predominante por glicosaminoglicanos. Pode apresentar pequenas ilhas e cordes de restos epiteliais odontognicos na cpsula fibrosa. J no cisto dentgero inflamado, a cpsula apresenta um tecido epitelial mais espesso, com infiltrado inflamatrio crnico difuso, cristas epiteliais hiperplsicas e caractersticas escamosas mais definidas.2

O objetivo do presente artigo relatar um caso clnico de enucleao de cisto dentgero de desenvolvimento em corpo mandibular esquerda associado ao primeiro molar inferior (36) incluso na regio de base da mandbula, em ntimo contato com o canal mandibular, atravs da tcnica cirrgica de janela ssea por meio do motor piezoeltrico, objetivando 0preservao dos tecidos moles e duros adjacentes leso.

Relato de caso

Um paciente de 19 anos, sexo masculino, sem comorbidades, encaminhado pela ortodontista para avaliao de dente 36 retido, ao avaliar a radiografia panormica previa foi observada leso radiolcida bem circunscrita, corticalizada e unilocular associada ao elemento 36 (Figura 1). Ao exame clnico, foi observado aparelho ortodntico fixo e ausncia do dente 36; no foram identificados sinais flogstico e ao teste de vitalidade pulpar dos elementos adjacentes, no foram evidenciadas alteraes (Figura 2). Foi ento solicitada tomografia computadorizada cone beam, a qual identificou dente 36 retido prximo base da mandbula, em ntimo contato com o canal mandibular, associado a uma leso hipodensa, circunscrita de 15,5 X 27,7 X 14,8 mm (proporo tomogrfica 1:1), sem evidncia de reabsoro dentria (Figura 3). A principal hiptese diagnstica foi a de leso cstica, compatvel com cisto dentgero.

Figura 1. Radiografia panormica inicial

Figura 2. Aspeto intraoral.

Figura 3. Tomografia cone beam.

Foi planeada a enucleao total da leso cstica, preservando-se o mximo de tecido sseo mandibular, assim como o canal mandibular. Previamente cirurgia, estudo pr-operatrio das imagens de tomografia cone beam e radiografias com vencionais foi efetuado para orientao das linhas de osteotomias necessrias. O ato cirrgico consistiu em: anestesia geral; intubao nasotraqueal; infiltrao de lidocana 2% com epinefrina 1:200.000 em regio de fundo de vestbulo referente aos dentes incisivo central inferior (32) ao terceiro molar inferior (38); inciso com eletrocautrio orientada do 32 ao 38 por planos, direcionado a ponta do cautrio para poro ssea vestibular da mandbula, inciso realizada por camadas at a exposio do peristeo; por conseguinte descolamento subperiosteal; realizou-se a dissecao do nervo mentoniano por meio de inciso com lmina 15 fria em seu longo eixo, com a posterior divulso das fibras nevosas com auxlio da tesoura ris delicada, evitando o estiramento da estrutura nervosa durante o afastamento dos tecidos, alm de facilitar a ampliao da loca cirurgia; exposio da tbua ssea vestibular mandibular (Figura 4). A osteotomia foi realizada com motor piezoeltrico, projetando-se a ponta ultrassnica em um ngulo de 45 para obter um ngulo interno biselado (Figura 5).

Figura 4. Tbua ssea vestibular mandibular.

Figura 5. Confeo de osteotomia em formato de janela.

Aps completar as osteotomias, uma placa de 4 furos do sistema 1.5 foi cortada, dobrada e moldada, e realizou-se as perfuraes dos parafusos de fixao. Cinzeis de Wagner e Sverzut foram empregados para finalizar as osteotomias e remover a tampa ssea; o fragmento sseo foi armazenado em soluo de soro fisiolgico 0,9%.

Na sequncia realizou-se a enucleao e curetagem da leso cstica (Figura 6), e para exrese do elemento 36, realizou-se osteotomia seguida da odontosseco e posterior uso de alavancas. Aps a limpeza da loca cirrgica, o fragmento sseo foi reposicionado seguindo como referencial o ngulo interno biselado para cortical vestibular, finalizando com a placa pr-dobrada e colocao dos parafusos em posio (Figura 7). A pea enucleada foi encaminhada para avaliao anatomopatolgica, a qual confirmou a hiptese diagnstica de cisto dentgero de desenvolvimento (Figuras 8 e 9). O paciente recebeu alta hospitalar algumas horas aps a cirurgia, negando queixas lgicas, parestesia ou paralisia facial. Aps o retorno precoce ps-cirrgico, foi institudo controle peridico a cada 6 meses at completo restabelecimento da integridade ssea da regio enucleada (Figura 10).

Figura 6. Enucleao e curetagem da leso cstica.

Figura 7. Reposicionamento e fixao da janela ssea sistema 1.5 do sistema de fixao de rtese e prtese.

Figura 8. Pea enucleada.

Figura 9. Observa-se tecido epitelial de revestimento pavimentoso estratificado no ceratinizado com reas de hiperplasia. Corado com hematoxilina e eosina (HE).

Figura 10. Controle panormico ps-operatrio de 6 meses.

Discusso e concluses

O cisto dentgero o segundo cisto odontognico mais prevalente nos maxilares, comumente identificado como achado radiogrfico em exames de rotina. Os terceiros molares e caninos superiores so os elementos mais afetados por esta leso cstica, sendo as tcnicas de enucleao, descompresso e marsupializao as mais utilizadas para a sua resoluo.4 - 6

Devido ao deslocamento do primeiro molar inferior esquerdo (36) para a base da mandbula com envolvimento do canal mandibular, optou-se pela enucleao da leso cstica por meio da tcnica de janela ssea. A osteotomia foi realizada por meio da piezocirurgia, a qual apresenta um controle tridimensional das microvibraes ultrassnicas, permitindo um corte seletivo das estruturas sseas de interesse, que resulta em danos mnimos aos tecidos moles e estruturas nervosas, alm de possibilitar a enucleao precisa das leses csticas, bem como uma melhora na viso da loca cirrgica.7, 8

A tcnica janela ssea apresenta como vantagem a reduo da perda ssea, a qual propicia a regenerao ssea guiada, por meio do reposicionamento do fragmento sseo, reduzindo as dimenses do defeito e criando uma barreira rica em osteoblastos que inibe a infiltrao de clulas epiteliais para dentro da loca cirrgica.9, 10

A espessura do fragmento de fundamental importncia para o sucesso da tcnica, devendo ser confecionada com uma espessura adequada (> 1 mm), orientando a osteotomia com o propsito de delimitar um chanfrado interno mais longo que facilita no reposicionamento do fragmento em sua posio original. Dessa forma, viabiliza-se a fixao do sistema rtese e prtese, objetivando a reduo do risco de deiscncia e conseguinte fratura da janela ssea.11, 12

O cisto dentgero pode-se apresentar sem sintomatologia clnica, porm detm um potencial importante em relao ao seu crescimento, podendo causar movimentaes significativas e at mesmo reabsores dentrias.

A escolha do tratamento deve ser baseada no estado geral do paciente, idade, tamanho da leso, envolvimento de estruturas anatmicas, elementos associados e o risco de fratura mandibular. No presente caso, a tcnica de janela ssea foi empregada com auxlio do dispositivo piezoeltrico que possibilitou a enucleao total da leso cstica, viabilizando um procedimento seguro e eficaz, preservando-se tecidos moles, duros e nervos.

de extrema importncia o processamento histopatolgico das leses csticas para que o diagnstico definitivo seja realizado, podendo descartar outras leses que apresentem caractersticas semelhantes. Da mesma forma, o acompanhamento radiogrfico ps-operatrio em casos de patologias sseas essencial.

Referncias

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2. Neville BW. Atlas de Patologia Oral e Maxilofacial. 1. Edio. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021.

3. Tsukamoto G, Sasaki A, Akiyama T, Ishikawa T, Kishimoto K, Nishiyama A, et al. A radiologic analysis of dentigerous cysts and odontogenic keratocysts associated with a mandibular third molar. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2001;91:743-7.

4. Noujeim Z, Nasr L. The prevalence, distribution, and radiological evaluation of dentigerous cysts in a Lebanese sample. Imaging Sci Dent. 2021;51:291-7.

5. Younes R, Nasseh I, Lahoud P, Wassef E, Dagher M. Bone lid technique using a piezoelectric device for the treatment of a mandibular bony lesion. Case Rep Dent. 2017;2017:9315070.

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9. Sivolella S, Brunello G, Fistarol F, Stellini E, Bacci C. The bon lid technique in oral surgery: a case series study. Int J Oral Maxillofac Surg. 2017;46:1490-6.

10. Cho YS, Park HK, Park CJ. Bony window repositioning without using a barrier membrane in the lateral approach for maxillary sinus bone grafts: clinical and radiologic results at 6 months. Int J Oral Maxillofac Implants. 2012;27:211-7.

11. Khoury F, Hensher R. The bony lid approach for the apical root resection of lower molars. Int J Oral Maxillofac Surg. 1987;16:16670.

12. Khoury F. The bony lid approach in pre-implant and implant surgery: a prospective study. Eur J Oral Implantol. 2013;6:375- 84.

*Autor correspondente:

Joo Vitor Pereira

Correio eletrnico:

E-mail address: joao.vitor.pereira@uel.br

Conflito de interesses

Os autores declaram no haver conflito de interesses.

Responsabilidades ticas

Proteo de pessoas e animais. Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos da comisso de investigao clnica e tica relevante e de acordo com os do Cdigo de tica da Associao Mdica Mundial (Declarao de Helsnquia).

Confidencialidade dos dados. Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca do acesso aos dados de pacientes e sua publicao.

Direito privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondncia est na posse deste documento.

Declarao de contribuio dos autores CRediT

Joo Vitor Pereira: Conceitualizao, Investigao, Visualizao, Redao do rascunho original. Karoline Von Ahn Pinto: Conceitualizao, Superviso, Redao reviso e edio. Las Albuquerque Fernandes: Conceitualizao, Redao reviso e edio. Ligia Pozzobon Martins: Superviso, Redao reviso e edio. Ceclia Luiz Pereira: Superviso, Redao reviso e edio.

1646-2890/ 2024 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentria. Published by SPEMD.

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