Search options

Search
Search by author
Between Dates
to
Volume and Number
&

Spemd Logo

Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial

Revista Portuguesa de Estomatologia Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial | 2020 | 61 (1) | 33-37




Caso ClÍnico

Tratamento conservador de extensa lesão de células gigantes

Conservative treatment of extensive giant cell injury


a Faculdade Morgana Potrich (FAMP), Mineiros – GO, Brasil
b Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS), Lavras – MG, Brasil
Natália Galvão Garcia - natggalvao@hotmail.com

  Show More



Volume - 61
Issue - 1
Caso ClÍnico
Pages - 33-37
Go to Volume


Received on 17/11/2019
Accepted on 11/04/2020
Available Online on 02/07/2020


Caso Clnico

Tratamento conservador de extensa leso de celulas gigantes

Conservative treatment of extensive giant cell injury

Mariana VitalBorgesa, Monica Cristina CarafiniNunesa, Carla Oliveira Favrettoa, Natalia Galvao Garciab,*

a Faculdade Morgana Potrich (FAMP), Mineiros GO, Brasil

b Centro Universitrio de Lavras (UNILAVRAS), Lavras MG, Brasil

*Correspondence to:

http://doi.org/10.24873/j.rpemd.2020.07.695

Resumo

O tratamento de escolha da Leso Central de Clulas Gigantes, na maioria das vezes, a interveno cirrgica. No entanto, estudos recentes tm trazido uma opo teraputica mais conservadora atravs de aplicaes intralesionais de corticosteroides associados com calcitonina. Sendo assim, oobjetivo deste trabalho foi o relato de um caso clnico envolvendo uma paciente com queixa de queimadura no cu da boca. Durante o exame fsico, foi observada uma tumefao na regio central do palato duro. No exame tomogrfico, notou-se leso osteoltica invadindo a cavidade nasal. Foi feita uma bipsia incisional e o diagnstico estabelecido foi de Leso Central de Clulas Gigantes. Considerando o tamanho da leso e a condio sistmica da paciente, optou-se pela realizao de um tratamento conservador, sendo observada extensa regresso da leso. Com base no resultado obtido, sugere-se que o tratamento conservador pode ser considerado uma abordagem teraputica vivel para o tratamento de leses extensas.

Palavras-chave: Corticosteroide, Leso central de clulas gigantes, Tratamento conservador

Abstract

The treatment of choice for central giant cell injury is generally surgical intervention. However, recent studies have approached it with a more conservative therapeutic strategy through intralesional corticosteroid applications associated with calcitonin. Thus, the aim of this study was to report a clinical case involving a patient complaining of palatal burn.

During physical examination, swelling was observed in the central region of the hard palate. Tomographic examination revealed an osteolytic lesion invading the nasal cavity. An incisional biopsy was performed, and the diagnosis was central giant cell injury. Considering the size of the lesion and the patients systemic condition, a conservative treatment was chosen, and extensive regression of the lesion was observed. The obtained result suggests that conservative treatment may be considered a viable therapeutic approach for the treatment of extensive lesions

Keywords: Corticosteroid, Central giant cell injury, Conservative treatment

Introduo

A Leso Central de Clulas Gigantes (LCCG) uma lesointrassea formada por tecido fibroso celular que contm mltiplos focos de hemorragia, agregados de clulas gigantes multinucleadas e, ocasionalmente, trabeculado de osso imaturo.1,3

Apesar de uma etiologia incerta, alguns autores acreditam que possa estar relacionada a traumas e hemorragia intrassea, ou, ainda, a causas sistmicas, como distrbios hormonais (hiperparatireoidismo), gravidez e sndromes como a Neurofibromatose I e a Sndrome de Noonan.2

Clinicamente, a LCCG se apresenta como uma massa de crescimento lento, indolor, podendo expandir s regies corticais sseas.3 No entanto, h relatos de uma forma mais agressiva, cujo crescimento rpido e provoca assimetria da face, deslocamento de dentes, reabsoro radicular e expanso das corticais sseas.2,4

Radiograficamente, a LCCG pode apresentar‑se de diferentes formas que varia de pequenas leses radiolcidas uniloculares at extensas reas multiloculares. Geralmente, a leso apresenta limites festonados, apresentando ou no halo radiopaco. Quando a leso se encontra na regio maxilar, ela pode invadir o pavimento de rbita e o seio maxilar, bem como a fossa nasal. J na regio mandibular, a leso pode expandir‑se e/ou perfurar a cortical ssea, o que provoca movimentao dentria e/ou reabsoro dentria.1,5, 6

Histologicamente, comum a presena de clulas gigantes multinucleadas de permeio a diversos vasos sanguneos e reas hemorrgicas, imersas num estroma colagenoso de clulas mesenquimatosas ovoides ou fusiformes com elevada taxa mittica. Tambm podem ser observadas calcificaes distrficas ou ossificaes metaplsicas.1, 4, 6, 7

O tratamento da LCCG, na maioria das vezes, a interveno cirrgica por meio de curetagem ou de uma resseco em bloco8, 9 No entanto, estudos recentes tm trazido uma opo de tratamento mais conservadora, atravs dos quais so realizadas aplicaes intralesionais com corticosterides em associao ou no com medicamentos, tal como a calcitonina eInterferon α (IFNα).1, 10, 11

Considerando, portanto, que o tratamento conservador pode apresentar bons resultados quando bem indicado, este trabalho teve como intuito relatar um caso clnico de uma extensa LCCG localizada na maxila tratada e que foi tratada de forma conservadora.

Caso Clnico

Paciente do gnero feminino, 57 anos, leucoderma, compareceu clnica Escola de Odontologa queixando‑se de uma queimadura no cu da boca.

Ao exame fsico intrabucal, foi observada uma tumefao de aproximadamente 11 mm na regio central do palato duro de colorao mista, superfcie irregular bem delimitada, base sssil, resiliente palpao, alm de discreta sintomatologia dolorosa (Figura 1).

O exame tomogrfico revelou leso hipodensa, unilocular, osteolitica e expansiva localizada na regio do palato duro do lado direito, invadindo a cavidade nasal, medindo 26,4 x 64 x 11 mm no maior dimetro (Figura 2). O laudo tomogrfico sugeriu como hiptese diagnstica, Neoplasia de Glndula Salivar. Assim, foi realizada uma bipsia incisional, cujo material coletado foi enviado para o laboratrio de anatomia patolgica.

Os cortes microscpicos revelaram inmeras clulas gigantes multinucleadas de permeio s clulas fusiformes distribudas aleatoriamente, vasos sanguneos dilatados, sendo alguns congestos, reas hemorrgicas, hemossiderose e trabculas sseas (Figura 3A e B). Suprajacente, foi observado epitlio estratificadopavimentoso paraqueratinizadohiperplsico, com reas de atrofia e soluo de continuidade recoberta por pseudomembrana serofibrinosa e polimorfonucleares.

Com base nos aspectos clnicos, imagiolgicos e microscpicos, o diagnstico estabelecido foi Leso Central de Clulas Gigantes.

Considerando o tamanho da leso e a condio sistmica da paciente, a qual apresentava um aneurisma cerebral, optou‑se pela realizao de um tratamento conservador, atravs do qual foi utilizado o seguinte protocolo: dez sesses de aplicaes intralesionais de uma soluo de hexacetonido de triancinolona (Triancil) 20 mg/ml e Lidocana 2% na proporo de 1:1.

As aplicaes foram realizadas com seringa de 1mL e agulha ultrafina, infiltrando 10 UI para cada 1 cm3 da leso com intervalo de tempo de duas semanas entre cada aplicao.

Cinco meses depois, no final das aplicaes, foi observada expressiva regresso da leso, tanto do ponto de vista clnico quanto do ponto de vista tomogrfico, e o tratamento foi complementado com o uso de calcitonina spray nasal (Miacalcic) (Figura 4).

A paciente foi orientada a fazer uso dirio do medicamento, com posologia de aplicao de uma dose (200 UI/ml) em cada narina, totalizando 400 UI/ml ao dia.

Aps sete meses do incio do tratamento confirmou‑se a regresso progressiva da leso do ponto de vista clnico (Figura 5). Optou‑ se ento por solicitar uma nova tomografia computadorizada para controlo, cujo laudo revelou reduo volumtrica significativa da leso associado a reas de mineralização (Figura 6).

Considerando, ento, a boa tolerncia que a paciente apresentou ao uso da calcitonina spray, o tratamento foi mantido. Atualmente, a paciente segue em vigilncia e no apresenta queixas funcionais ou sinais de recidiva.

Discusso e Concluses

A LCCG uma patologia de etiologia incerta. No entanto, alguns autores acreditam que possa estar relacionada a traumas, hemorragiaintrassea ou a causas sistmicas.2

Sua maior incidncia ocorre em mulheres abaixo de 30 anos e na regio anterior da mandbula.1, 12, 13 Neste estudo, a paciente do gnero feminino tinha 57 anos e apresentava comprometimento maxilar. Alm disso, no foram identificadas alteraes sistmicas e nem histrico de trauma na regio.

Clinicamente, a maioria dos casos de LCCG apresenta‑se como uma massatumoral, de consistncia endurecida, assintomtica, de crescimento lento, podendo expandir s regies corticais sseas.3 No entanto, alguns autores relatam a ocorrncia de uma forma mais agressiva, de crescimento rpido que pode provocar assimetria da face, deslocamento de dentes e reabsoro radicular.2, 4 No caso relatado, foi observada uma tumefao de superfcie irregular, base sssil, discreta sintomatologia dolorosa, causando expanso das corticais.

Radiograficamente observa‑se possvel invaso do pavimento do seio maxilar e das fossas nasais quando a LCCG acomete a regio maxilar5, 6 Corroborando com o estudo desses autores, os cortes tomogrficos deste caso apresentaram uma leso osteoltica que invadiu a cavidade nasal.

O tratamento de escolha da LCCG, geralmente, inclui interveno cirrgica, por meio de curetagem ou resseco.8, 9 No entanto, os bons resultados apresentados por leses tratadas de forma conservadora tm ressaltado a eficcia dessa opo teraputica em situaes bem indicadas.1, 10, 11

Essa forma conservadora trata‑se de aplicaes intralesionais com corticosteroides, associados ou no a outros medicamentos, tal como a calcitonina e o IFNα, cujos resultados tm mostrado vantagens no tratamento de leses extensas, o que evita possveis mutilaes.1, 10, 11 No presente caso, por ser uma leso extensa numa paciente com compromisso sistmico, optou‑se pela realizao do tratamento conservador para evitar a submisso da paciente a uma cirurgia de alta complexidade.

Logo, foi utilizado um protocolo de dez sesses de aplicaes intralesionais de uma soluo deacetonido de triancinolona (Triancil) 20 mg/ml e Lidocana 2% na proporo de 1:1.

Aps finalizadas as aplicaes e, tendo sido observada expressiva regresso da leso, foi feita a associao com o uso decalcitonina spray nasal (Miacalcic), uma vez que estudos recentes tm demonstrado que a calcitonina inibe a actividade dos osteoclastos, aumentando dos nveis sricos de clcio e estimulando a atividade osteoblstica.9, 10 Corroborando com esses achados, sete meses aps o inicio da utilizao da calcitonina, foi observada reduo volumtrica significativa da leso, associada a reas de mineralizao.

Com base nos resultados satisfatrios obtidos, sugere‑se que o uso intralesional de corticosteroides em associao com acalcitonina spray nasal pode ser considerado uma abordagem teraputica vivel para o tratamento de leses extensas.

Referncias

1. Gomes ACA, Silva EDO, Porto GG, Machiore E. Granuloma Central de Clulas Gigantes: Relato de caso. Rev Cir TraumatolBuco Maxilofac. 2004;4:87‑91.

2. Felin GC, Zanata A, Rocha G, Conto F, Rovani G, Flores ME. Tratamento com corticosteroide de granuloma central de clulas gigantes mandibular em crianas: relato de caso. RFO Passo Fundo. 2014;19:354‑8.

3. Silva FL, Pimentel GG, Benevides BS, Parente JLC, Barbalho JCM. Tratamento combinado de granuloma central de clulas gigantes por meio de corticoterapia e enucleao: Relato de caso.Rev Cir Traumatol Buco Maxilofac. 2013;13:9‑14.

4. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral eMaxilofacial. Rio de Janeiro. 2009.

5. Noleto JW,Marchiore E, Sampaio RK, Irion KL, Collares FB. Aspectos radiolgicos e epidemiolgicos do granuloma central de clulas gigantes. Radiol Bras. 2007;40:167-71.

6. Matos FR, Benevenuto TG, Medeiros AMC, EJD, Freitas RA. Leso central de clulas gigantes agressiva: relato de caso e reviso dos aspectos atuais. RevOdontol Unesp. 2009;38:324-7.

7. Frana DCC, Andr NV, Lessi MAA, Reis GSS, Aguiar SMHCA. Granuloma perifrico de clulas gigantes: relato de caso com acompanhamento de dois anos. Rev Odontol Bras Central. 2010;19:352-5.

8. de Lange J, Rosenberg AJ, van den Akker HP, Koole R, Wirds JJ, van den Berg H. Treatmentof central giant cell granuloma of the jaw with calcitonin. Int J Oral Maxillofac Surg. 1999;28:372-6.

9. Pogrel MA. Calcitonin Therapy for Central Glant Cell Granuloma. J Oral Maxillofac Surg. 2003;61:649-53.

10. Rachmiel A, Emodi O, Sabo E, Aizenbud D, Peled M. Combined treatment of aggressive centralgiantcell granuloma in the lower jaw. J Craniomaxillofac Surg. 2012;40:292-7.

11. Carlos R, Sedano HO.Intralesional corticosteroids as na alternative treatment for central giant cell granuloma. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral RadiolEndod. 2002;93:161-6.

12. Abdo EN, Alves LC, Rodrigues AS, Ricardo RA, Gomez RS. Treatment of a Central Giant Granuloma with Intralesional Corticosteoid. Br J Oral Maxillofac Surg. 2005;43:74-6.

13. Borges HO, Machado RA, Vidor MM, Beltro RG,Heitz C, Filho MS. Calcitonin: A non-invasive giant cells therapy. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2008;72:959-63.

*Autor correspondente:

Natlia Galvo Garcia

Correio eletrnico: natggalvao@hotmail.com

Responsabilidades ticas

Proteco de pessoas e animais. Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos da comisso de investigao clinica e tica relevante e de acordo com os do Cdigo de tica da Associao Medica Mundial (Declarao de Helsnquia).

Confidencialidade dos dados. Os autores declaram que no aparecem dados de pacientes neste artigo.

Direito a privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondncia esta na posse deste documento.

Conflito de interesses

Os autores declaram nao haver conflito de interesses.

Historial do artigo:

Recebido a 17 de novembro de 2019

Aceite a 11 de abril de 2020

On-line a 2 de julho de 2020