Resumo

Introdução: A fenda lábio-palatina é uma malformação congénita causada pela fusão incompleta ou ausente do processo nasal interno e do processo maxilar entre a 5.ª e a 10.ª semana de gestação. Durante a dentição mista, o enxerto ósseo secundário oferece vários benefícios, incluindo suporte ósseo para dentes não erupcionados, encerramento da fístula oronasal, entre outros. Contudo, em casos de defeitos de grandes dimensões pode ser necessária a utilização de abordagens terapêuticas alternativas ao enxerto ósseo convencional da crista ilíaca. O presente trabalho tem como objetivo relatar, através da descrição de casos clínicos, diferentes abordagens para o encerramento da fenda lábio-palatina. Descrição de caso clínico: Três doentes do sexo masculino com fenda lábio- palatina compareceram na consulta e todos os indivíduos tinham sido submetidos a intervenções cirúrgicas para o encerramento da fenda, sem êxito. No caso clínico de um doente de 18 anos, o tratamento ortodôntico incluiu expansão com aparelho hyrax, seguido de aparatologia fixa multibrackets para alinhamento das arcada e enxerto de tecido lingual. Este último procedimento permitiu o total recobrimento da fenda sem necrose, aumentando a previsibilidade do enxerto ósseo futuro. A melhoria da estética dentária foi conseguida posteriormente com restaurações estéticas nos dentes antero-superiores. No caso do doente de 10 anos, o plano de tratamento envolveu a expansão maxilar com quad-hélix, aparelho fixo multibrackets e enxerto da crista ilíaca com o preparado de plaquetas. No caso do doente de 9 anos, o tratamento consistiu na utilização de um aparelho quad-helix, aparelho parcial para preparação da arcada e posteriormente, cirurgia de distração osteogénica para encerramento da fenda. Ao término do protocolo terapêutico, os doentes apresentavam um encerramento da fenda lábio-palatina, tendo-se verificado melhorias na fonação, mastigação, e deglutição e estética. Discussão: As tensões resultantes das cirurgias prévias e o aumento da fenda promovido pela expansão maxilar podem requerer procedimentos alternativos para encerramento da fenda. O retalho pediculado de língua é a opção cirúrgica mais eficaz para o tratamento de grandes fístulas oronasais (maiores de 10 mm) e em casos de cicatrização excessiva ou fístulas persistentes após cirurgias prévias. A distração osteogénica pode ser utilizada em grandes defeitos em casos que existe a necessidade de eliminar a necessidade de local autólogo dador. Por fim, em defeitos mais pequenos, os derivados de plaquetas são uma fonte promissora para a terapia celular autóloga, especialmente devido à capacidade de libertar citocinas e fatores de crescimento. Conclusões: O encerramento da fenda lábio-palatina exige uma abordagem multidisciplinar, podendo requerer técnicas alternativas a fim de otimizar a regeneração tecidular e os resultados clínicos.