Resumo

Objetivos: Avaliar o impacto da terapêutica com diamino fluoreto de prata numa população pediátrica, para diferentes indicações clínicas. Materiais e métodos: Foi realizado um estudo exploratório, retrospetivo, utilizando a base de dados do Serviço Odontopediátrico de Lisboa, na aplicação informática para gestão de consultas. A amostra selecionada é composta por 28 crianças, dos 3 aos 12 anos de idade, nas quais se aplicou diamino fluoreto de prata durante o ano de 2020. Essa aplicação baseou-se em indicações clínicas dentárias: lesões de dentina assintomáticas cavitadas ou não, lesões múltiplas não tratáveis numa só consulta, lesões de dentina não restauráveis, hipomineralização incisivo molar; e em indicações relacionadas com o indivíduo: crianças pré-colaborantes ou cujo comportamento/condição médica limitam um tratamento invasivo. Consultaram-se os registos clínicos referentes aos 12 meses após essa intervenção. Consideraram- -se estáveis os dentes presentes em boca em que não se verificou a necessidade de novas intervenções. Resultados: Nas 28 crianças deste estudo, a aplicação da terapêutica incluiu: lesões de dentina assintomáticas, cavitadas ou não em 20 crianças (71,4% ); lesões múltiplas não tratáveis numa só consulta em 16 crianças (57,1%); lesões de dentina não restauráveis em 2 crianças (7,1%); hipomineralização incisivo-molar em 1 criança (3,6%). Relativamente às indicações relacionadas com o indivíduo, distribuíram-se da seguinte forma: 13 crianças (46,4%) não colaborantes ou cuja condição médica limitou o tratamento invasivo; 11 crianças (39,3%) pré-colaborantes. De acordo com o critério de estabilidade previamente definido, foram consideradas estáveis 70,2% das lesões tratadas com o diamino fluoreto de prata aos 12 meses. Conclusões: A terapêutica com diamino fluoreto de prata permitiu estabilizar lesões de cárie ativas quando não foi possível realizar um tratamento convencional. Adicionalmente, verificou-se a estabilização da doença numa só consulta, em crianças com múltiplas lesões de cárie, revelando-se uma abordagem sustentável, eficaz e económica. O período de estabilização de 12 meses é relevante num serviço comunitário em que a acessibilidade ao tratamento pode não ser imediata. Esta abordagem não invasiva possibilita o estabelecimento de uma relação de confiança com a criança, facilitando futuramente outro tipo de intervenções, sendo uma ferramenta útil também em contexto privado.