Resumo

Introdução: A displasia cemento-óssea florida é uma lesão fibro-óssea benigna e idiopática, caracterizada pela substituição do osso normal por tecido conjuntivo fibroso e material cemento-ósseo acelular. Inclui-se em três tipos: focal (única localização, geralmente posterior), periapical (região anterior da mandíbula) e florida (envolve múltiplos quadrantes). É geralmente um achado radiográfico acidental, ocorrendo em mulheres melanodérmicas de meia-idade, assintomáticas, com vitalidade pulpar preservada e sem expansão óssea cortical. Em casos graves pode causar infeção, dor, fístulas ou deformação óssea. Normalmente, a ortopantomografia apresenta lesões multifocais, bilaterais, simétricas, que evoluem de radiotransparentes para mistas e, por fim, radiopacas com halo radiotransparente, sem limite definido, lembrando “flocos de algodão”. O diagnóstico diferencial depende do estádio da lesão e inclui fibroma cemento-ossificante, cementoma gigantiforme, osteomielite esclerosante difusa crónica, doença de Paget e osteossarcoma. Nos casos assintomáticos opta-se por vigilância clínica e radiográfica. Descrição do Caso Clínico: Mulher melanoderma, 55 anos, VIH positiva, assintomática, foi referenciada à Consulta de Estomatologia por múltiplas radiopacidades lobulares, sobretudo mandibulares, simétricas e bilaterais (3.º e 4.º quadrantes), identificadas na ortopantomografia. Ao exame objetivo, não apresenta dor, edema ou massas palpáveis. Vitalidade pulpar preservada e análises sem alterações. A tomografia computorizada maxilofacial revela múltiplas lesões ósseas, predominantemente mandibulares e no 2.º quadrante, localizadas na região periapical/processo alveolar, sem expansão cortical. Apresentam contornos bem definidos, de densidade heterogénea e área interior hipodensa lobulada com halo periférico. Diagnóstico clínico e radiológico: displasia cemento-óssea florida. A doente mantém vigilância periódica em Estomatologia, com reforço da higiene oral. Discussão e Conclusões: O diagnóstico baseia-se na correlação clínico-radiográfica, para exclusão de outras patologias. Nos casos assintomáticos, o tratamento é conservador. A cirurgia é reservada a casos sintomáticos, com antibioterapia. Há controvérsia em estudos sobre a realização de terapêuticas cirúrgicas e ortodônticas, devido ao tecido ósseo hipovascularizado e densamente esclerótico, que aumenta o risco de osteomielite secundária. São necessários mais estudos para uniformizar a abordagem terapêutica.