Resumo

Introdução: O tumor odontogénico epitelial calcificante é um tipo raro de tumor odontogénico benigno que se caracteriza por um crescimento lento e assintomático. Um tratamento e seguimento adequados são essenciais na prevenção de recidivas tumorais. O presente trabalho relata um caso de uma possível recidiva de um tumor odontogénico epitelial calcificante. Descrição do Caso Clínico: Homem, 50 anos, referenciado para o Serviço de Estomatologia do Hospital de Braga, por uma tumefação no quarto quadrante com cerca de 15 anos de evolução. Refere antecedentes de uma cirurgia para exérese de tumor mandibular benigno nessa localização, no Senegal, há cerca de 15 anos, não tendo na sua posse qualquer informação clínica. Nega a realização de outros tratamentos complementares à cirurgia. Sem outros antecedentes patológicos de relevo. Ao exame objetivo apresentava uma tumefação endurecida no rebordo alveolar da região anterior do quarto quadrante, com cerca de dois centímetros de maior dimensão, indolor e sem condicionar mobilidades dentárias ou assimetrias cervicofaciais. A TC maxilofacial revelou um padrão esclerótico difuso, intercalado com pequenas áreas osteolíticas multifocais de limites indefinidos e concomitante expansão osteomedular a ocupar grande parte do quarto quadrante. Estes achados são imagiologicamente compatíveis com uma lesão tumoral óssea benigna. O utente foi submetido a uma biópsia óssea cuja histopatologia revelou tumor odontogénico epitelial calcificante. Tendo em conta a extensão e natureza expansiva do tumor, o caso foi referenciado para a Cirurgia Plástica e Reconstrutiva para decisão, em conjunto com o doente, da melhor opção terapêutica. Discussão e Conclusões: O tumor odontogénico epitelial calcificante (ou de Pindborg) corresponde a cerca de 1% dos tumores odontogénicos, apresenta predileção pela mandíbula (cerca de 60% dos casos) e caracteriza-se por uma lesão radiograficamente mista podendo estar associada a dentes inclusos. O diagnóstico é histopatológico e o tratamento mais indicado é a resseção segmentar. A taxa de recidiva é de cerca de 13% e recomenda-se seguimento a longo prazo (no mínimo 5 a 10 anos), apesar de raramente ocorrer transformação maligna. Tendo em conta a necessidade de uma excisão alargada, muitas vezes mutilante, é importante considerar hipóteses de reabilitação que devolvam ao utente a capacidade funcional e a estética que de outra forma serão perdidas.