Resumo

Introdução: O granuloma piogênico é um tumor vascular benigno, frequentemente associado a trauma ou irritação local, que costuma ocorrer na mucosa oral, embora a sua localização no ápice da língua seja invulgar. O diagnóstico diferencial é fundamental, pois pode mimetizar lesões malignas ou infecciosas. Por outro lado, o carcinoma de células claras, embora raro, também pode assemelhar-se a lesões benignas, exigindo diagnóstico precoce e tratamento eficaz. Almejamos com este trabalho comparar dois casos clínicos com apresentações semelhantes, mas com diagnósticos e abordagens terapêuticas distintas. Descrição do Caso Clínico: O primeiro caso refere-se a um homem de 64 anos, com uma lesão exofítica, eritematosa, sangrante, no ápice da língua, com três semanas de evolução. A lesão foi inicialmente diagnosticada como granuloma piogênico após excisão cirúrgica em instituição privada. No entanto, dois meses após, o paciente recorreu ao Serviço de Urgência com uma recidiva da lesão, pediculada, lobulada e de consistência fibroelástica, referindo disfagia e perda ponderal de 10 kg, devido à restrição alimentar. A nova excisão confirmou o diagnóstico inicial, sem sinais de malignidade. O segundo caso descreve um homem de 70 anos, fumador, que procurou atendimento após perceção de trauma lingual com espinha de peixe, resultando numa lesão dolorosa no dorso da língua. Após a biópsia, o exame histológico revelou um carcinoma de células claras, com provável origem renal. No local da biópsia, dois meses depois, surgiu uma nova lesão exofítica, mimetizando clinicamente o primeiro caso. Perante o resultado da biópsia foi realizado o estadiamento. O tratamento foi orientado em colaboração com a Oncologia Médica, e a resolução da lesão foi alcançada. Discussão e Conclusões: Ambos os casos destacam a complexidade do diagnóstico diferencial entre lesões benignas e malignas na língua. O granuloma piogênico, embora benigno, pode causar sérios impactos funcionais, como disfagia e perda ponderal significativa, especialmente quando localizado em áreas críticas da boca, como o ápice da língua. A recidiva pode ocorrer devido a excisão incompleta ou fatores irritativos persistentes. No segundo caso, a lesão inicial poderia mascarar uma neoplasia, o carcinoma de células claras, o que reforça a importância de uma abordagem diagnóstica abrangente e de seguimento rigoroso. Em ambos os casos, a colaboração multidisciplinar é crucial para uma gestão adequada e para garantir que o tratamento seja direcionado de acordo com a natureza da lesão.