Resumo

Introdução: O queratoquisto odontogénico (QO) é uma lesão benigna, localmente agressiva e de elevada taxa de recidiva, cuja gestão se torna particularmente desafiante em contexto pediátrico e com comorbilidades sistémicas, como a Diabetes Mellitus (DM) tipo 1. A literatura recente destaca a necessidade de estratégias individualizadas, privilegiando abordagens conservadoras em doentes jovens para minimizar morbilidades e preservar estruturas anatómicas. Descrição do Caso Clínico: Adolescente de 12 anos, com DM tipo 1, apresentou volumosa lesão radiotransparente maxilar, associada a dentes supranumerários e inclusão do 1.3. Optou-se por marsupialização e descompressão, permitindo redução significativa da lesão e migração parcial do canino. Após estabilização metabólica e diminuição do volume quístico, procedeu-se à enucleação cirúrgica do QO e exodontia dos supranumerários, seguida de tração ortodôntica do 1.3. O tratamento ortodôntico e multidisciplinar prolongou-se por 6 anos, culminando na erupção e alinhamento do canino, com reabilitação funcional e estética. Discussão e Conclusões: A abordagem conservadora inicial, seguida de enucleação, está associada a menores taxas de recidiva em comparação com a enucleação isolada, sendo especialmente recomendada em lesões extensas e em pacientes pediátricos. O controlo rigoroso da DM foi determinante para a cicatrização e prevenção de complicações. A literatura reforça que a decisão terapêutica deve considerar idade, extensão da lesão, relação com dentes impactados e comorbilidades, sendo a colaboração entre cirurgia oral e ortodontia fundamental para o sucesso. Este caso ilustra a eficácia e segurança de uma abordagem multidisciplinar e conservadora no tratamento do QO em contexto sistémico comprometido, alinhada com as melhores práticas atuais e com potencial para preservar função e estética a longo prazo.