Resumo

Introdução: Em Portugal, cerca de um quarto da população é idosa. Com o envelhecimento, surgem múltiplas condições incapacitantes, sendo a saúde oral uma das mais afetadas. Os idosos apresentam elevada prevalência de perda dentária, cárie, doença periodontal e xerostomia. Segundo o IX Barómetro Nacional de Saúde Oral da OMD (2024), menos de metade dos portugueses mantém a dentição completa, e 41% dos que têm ausências dentárias usam prótese removível, opção de menor custo e mais acessível. O uso de próteses removíveis requer manutenção adequada e acompanhamento regular. A negligência desses cuidados pode originar complicações, como lesões orais - entre as mais comuns destacam-se a Hiperplasia Fibrosa Inflamatória, a Queilite Angular, a Úlcera Traumática e a Estomatite Protética. A mucosa oral envelhecida, com epitélio mais fino e menor vascularização, torna-se mais vulnerável a agressões e ao aparecimento de lesões. Descrição do Caso Clínico: Paciente do sexo masculino, 85 anos, recorreu à consulta de reabilitação oral na FMDUL para renovação das suas próteses removíveis. Antecedentes médicos: diabetes tipo 2, hipertensão e hipercolesterolemia, medicado com metformina, enalapril e sinvastatina. No exame clínico observou-se: (1) massa hiperplásica extensa de coloração normal no fundo do vestíbulo anterior e mucosa labial/jugal da maxila; (2) edentulismo total, com uso das mesmas próteses removíveis há mais de 15 anos. O paciente foi encaminhado para cirurgia, onde se confirmou o diagnóstico de Hiperplasia Fibrosa Inflamatória associada a trauma provocado pela prótese, sendo realizada excisão cirúrgica. Após 2 meses de cicatrização, procedeu- se à confeção de novas próteses, segundo protocolo convencional. Apesar da boa adaptação não se obteve retenção na prótese superior. Discussão e Conclusões: A maior fragilidade da mucosa oral em idosos, associada à ausência de controlo periódico das próteses removíveis, pode levar a lesões com necessidade de tratamento cirúrgico. O processo de cicatrização pode induzir fibrose dos tecidos e a uma redução da profundidade do vestíbulo, o que compromete a retenção e o conforto das próteses totais. A monitorização contínua e a adaptação periódica das próteses são essenciais na prevenção destas complicações.