Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial
XLV Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) Figueira da Foz, 9 a 11 de outubro de 2025 | 2025 | 66 (S1) | Page(s) 1
Caso ClÍnico
#002 Mais do que lesões orais: um caso de pênfigo vulgar
a Unidade Local de Saúde Santa Maria (ULSSM), Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto
Article Info
Rev Port Estomatol Med Dent Cir Maxilofac
Volume - 66
Supplement - S1
Caso ClÍnico
Pages - 1
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Article History
Received on 09/10/2025
Accepted on 09/10/2025
Available Online on 09/10/2025
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Resumo
Introdução: O pênfigo vulgar é uma doença crónica autoimune bolhosa rara, caracterizada por acantólise intraepitelial mediada por autoanticorpos dirigidos contra as desmogleinas 1 e 3. Em cerca de 90% dos casos, as manifestações orais constituem a apresentação clínica inicial da doença, sob a forma de bolhas de curta duração que evoluem rapidamente para erosões persistentes e dolorosas da mucosa. Para além da cavidade oral, o pênfigo vulgar pode acometer outras mucosas (genital, nasal, faringolaríngea, ocular) e a pele, resultando num fenótipo mucocutâneo com alta morbilidade. Descrição do Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 50 anos, com antecedentes pessoais de dislipidémia, insulinoresistência e ossificação pulmonar dendrítica, recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de odinofagia intensa, disfagia e ulcerações dolorosas da mucosa oral e genital, associado a perda ponderal de 30 kg em dois meses. Ao exame objetivo, evidenciaram-se lesões erosivas extensas envolvendo a mucosa labial, mucosa jugal, palato mole, língua e gengiva. Observou-se também envolvimento da mucosa genital, faringolaríngea e do couro cabeludo. Realizou-se estudo analítico alargado, incluindo painel autoimune, imunoglobulinas séricas quantitativas, imunofixações séricas e urinárias e serologias virais e bacterianas, sem alterações de relevo. A confirmação diagnóstica foi obtida através de biópsia da mucosa oral e peniana, compatíveis com pênfigo vulgar, e positividade para anticorpos anti-desmogleina 3 (>200 U/mL). Foi iniciado suporte nutricional com dieta mole e fria, associada a suplementação oral. Instituiu-se corticoterapia sistémica com prednisolona oral, complementada com terapêutica tópica da mucosa oral com dexametasona diluída, lidocaína gel e sucralfato. Face à extensão e refratariedade das lesões, foi iniciado tratamento imunomodulador com rituximab. Discussão e Conclusões: As manifestações orais do pênfigo vulgar constituem frequentemente a primeira evidência clínica da doença e podem apresentar-se com morbilidade significativa. A abordagem terapêutica deve integrar imunossupressão sistémica precoce e medidas locais destinadas ao controlo sintomático e preservação funcional. Este caso evidencia a importância da vigilância clínica rigorosa das manifestações orais e o papel da terapêutica dirigida na obtenção do controlo da doença.