Resumo

Introdução: Dens invaginatus é uma alteração do desenvolvimento dentário que consiste numa invaginação do órgão do esmalte antes da mineralização, a qual pode ser propícia à invasão bacteriana responsável pelo desenvolvimento de patologia pulpar e/ou periapical. Descrição do caso clínico: Paciente do sexo feminino, 14 anos, foi referenciada em Julho de 2020 para avaliação de fístula na zona vestibular do dente 25. Com desconforto à palpação vestibular, sem outros sintomas. Sem antecedentes relevantes na história médica. Com resposta negativa aos testes de sensibilidade pulpar. Na radiografia periapical foi observada uma variação anatómica compatível com dens in dente com ápice aberto, pelo que foi solicitada uma tomografia computorizada de feixe cónico. Foi estabelecido o diagnóstico de necrose pulpar e abcesso apical crónico, e dens invaginatus tipo II de Oehlers. Procedeu-se à abertura coronária sob ampliação com microscópio e remoção da invaginação com pontas ultrassónicas diamantadas. O canal foi instrumentado com limas manuais e irrigado com hipoclorito de sódio 2,5% e colocada uma medicação intracanalar com hidróxido de cálcio. Na segunda consulta, já com observação de ausência de fístula, foi removido o hidróxido de cálcio e optou- -se pela apexificação. Foi realizado um protocolo de irrigação com hipoclorito 5,25%, colocada uma matriz de colagénio na zona apical, de seguida um plug apical com MTA e obturação do restante canal com gutta-percha termoplástica, selamento intracoronário com ionómero de vidro e restauração direta definitiva com resina composta. Após controlos de 6 meses e 2 anos, o dente encontra-se assintomático e em função. Discussão e conclusões: Dens invaginatus é uma anomalia na anatomia dentária, cuja incidência varia de 0,04% a 10%. O caso clínico pode ser classificado como tipo II de Oehlers, que consiste numa invaginação ao longo da raiz do dente sem atingimentos dos tecidos periapicais. O tratamento conservador deverá ser a primeira opção, que pode tornar-se complexa devido à imprevisibilidade da anatomia interna. No caso clínico descrito, teve importância o planeamento da abordagem com CBCT, a realização do tratamento sob ampliação com microscópio, a qualidade do selamento apical e intracoronário para evitar infiltrações que pudessem comprometer o tratamento. Embora a frequência de dens invaginatus seja relativamente baixa, cada caso deve ser analisado radiograficamente para um correto seguimento do caso.