Resumo

Objetivos: Nesta revisão sistemática são descritos os diferentes constituintes químicos do tabaco e da canábis, bem como os seus efeitos fisiológicos gerais e na cavidade oral. O papel essencial dos médicos dentistas na gestão dos pacientes que consomem estas drogas foi também considerado. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática da literatura publicada nos últimos 5 anos, segundo a metodologia PRISMA com recurso à base de dados da PubMed, utilizando a combinação das palavras-chave: Tobacco smoking, Marijuana Smoking, Oral microbiota, Oral pathology e Oral Manifestations. Resultados: Após remoção dos artigos duplicados e aplicação dos critérios de inclusão/exclusão, foram incluídos 14 artigos (num total de 36 artigos e excluídos 22 artigos). O presente trabalho apresenta evidências robustas de que o tabagismo e o uso de canábis estão associados a um risco significativamente maior de lesões orais, incluindo cancro oral, leucoplasias, periodontite e cárie dentária. Os compostos químicos presentes no tabaco, como as nitrosaminas e o alcatrão, danificam a mucosa oral, favorecendo mutações genéticas que levam a lesões pré-malignas. Da mesma forma, o fumo de canábis contém canabinoides e substâncias mutagénicas que podem causar inflamação crónica e alterar os tecidos orais, aumentando o risco de cancro oral. Além disso, estes compostos enfraquecem o sistema imunológico local, aumentando a vulnerabilidade a infeções orais. O tabaco e a canábis são frequentemente utilizados de forma concomitante por muitos consumidores. Os médicos dentistas devem estar conscientes do seu papel crucial na prevenção e na deteção de lesões, especialmente as precursoras de cancro oral. Conclusões: Os estudos demonstram que o tabagismo e o consumo de canábis são comportamentos com impacto na saúde oral e é, pois, essencial que os médicos dentistas desempenhem um papel importante na deteção precoce, prevenção e tratamento das lesões orais nestes pacientes. Os médicos dentistas que lidam com pacientes que consomem tabaco e/ou canábis devem adaptar a sua abordagem clínica, que aposte na alteração destes hábitos aditivos. De realçar que a confissão do consumo de canábis ainda é atualmente baixa, face ao estigma negativo social associado a esta realidade. Serão necessários estudos adicionais para avaliar os efeitos sinérgicos e as consequências a longo prazo dessa combinação nos tecidos e funções da cavidade oral.