Resumo

Introdução: A glossite romboide mediana é uma patologia inflamatória rara que se apresenta como uma placa avermelhada na linha média do dorso da língua, anterior às papilas circunvaladas. Afetando menos de 1% da população, está frequentemente associada a infeções crónicas por Candida albicans, podendo causar sintomas discretos de ardor. Descrição do Caso Clínico: Doente do sexo masculino, de 73 anos, com antecedentes de refluxo gastroesofágico e doença pulmonar obstrutiva crónica, medicado com inibidores da bomba de protões (IBP) e alérgico a aspirina e anti-inflamatórios não esteroides (AINE), é referenciado à consulta de estomatologia devido a queixas de ardor e desconforto na língua, com persistência há quase um ano. Há seis meses, notou mancha avermelhada no centro da língua, que diminuiu nas últimas semanas. Negava friabilidade da lesão ou outras lesões genitais. Ao exame objetivo, verificou-se uma lesão endurecida na linha média do dorso da língua, com despapilação, sem friabilidade. Perante a suspeita de glossite romboide mediana, sífilis, ou carcinoma, foi realizada uma biópsia incisional e solicitado o estudo analítico de VDRL. O estudo anatomopatológico confirmou o diagnóstico de glossite romboide mediana e o teste para Treponema Pallidum foi não reativo. Foi prescrita medicação antifúngica (Fluconazol e Nistatina) e recomendada a melhoria da higiene oral. Na reavaliação, foi comprovada uma melhoria significativa das suas queixas iniciais, observando-se maior área com papilação e coloração normais, com a lesão de tamanho mais reduzido. Discussão e Conclusões: Apesar de rara, a glossite romboide mediana deve ser considerada no diagnóstico diferencial de lesões eritematosas e despapiladas na língua. O diagnóstico desta patologia é histológico, pelo que é mandatória a realização de biópsia, de forma a excluir outras condições como carcinoma ou sífilis. A melhoria significativa do doente com antifúngicos reforça a infeção por Candida albicans como das principais etiologias desta condição clínica. Desta forma, o tratamento passa pela toma de antifúngicos (de aplicação tópica e/ou sistémica), bem como pela otimização da higiene oral com correta escovagem lingual. Existe a possibilidade de recorrência da lesão, especialmente em doentes com fatores de risco como a imunodepressão. No entanto, o prognóstico desta condição é favorável na medida em que o doente recupera a sua qualidade de vida com resolução das queixas.