Resumo

Introdução: Os pré-molares são dentes tipicamente subvalorizados por serem habitualmente mono-radiculares, mas muitas vezes apresentam complexidades anatómicas, como sulcos radiculares, configurações em C, canais de furca, ramificações apicais, morfologia com três raízes e canais duplos. Essas complexidades anatómicas dificultam significativamente os tratamentos endodônticos, impactando o seu prognóstico. Portanto, um diagnóstico radiográfico correto, utilizando, se necessário, CBCT, é essencial para detetar e abordar corretamente essas complexidades anatómicas. O caso clínico seguinte descreve a abordagem a um pré-molar inferior com um segundo canal lingual. Descrição do Caso Clínico: Um paciente do sexo masculino, 61 anos, foi encaminhado para a pós-graduação de Endodontia para tratamento endodôntico do dente 35. O paciente encontrava- se com dor há 1 mês, principalmente ao frio e quente, mas ultimamente apenas à mastigação, após a realização de uma restauração direta. O exame radiográfico revelou a presença de uma extensa restauração prévia desadaptada em distal e o espessamento do ligamento periodontal. Verificou- se uma resposta dolorosa à percussão vertical no 35 e algum desconforto à palpação. Os testes ao frio e elétrico apresentaram resposta negativa. Foi diagnosticada necrose pulpar e periodontite apical sintomática do 35 e proposto o tratamento endodôntico do referido dente, com posterior reabilitação com recobrimento cuspídeo. No controlo aos 6 meses, o paciente estava clinicamente assintomático e sem sinais radiográficos de patologia apical, mas ainda sem restauração definitiva, pelo que foi realizado um recobrimento cuspídeo indireto em resina composta. Discussão e Conclusões: A anatomia tem um papel significativo no resultado do tratamento endodôntico, pois a desinfeção, conformação e obturação inadequadas dos canais radiculares influenciam diretamente o prognóstico do tratamento endodôntico. Os segundos pré-molares mandibulares com ramificações apicais complexas têm uma prevalência relativamente incomum (5,3%), no entanto, isso pode dever-se a um subdiagnóstico, visto que estudos de outcome têm mostrado taxas de sucesso relativamente baixas nestes dentes (58% clínico, 50% radiográfico). Como tal, é essencial estar atento a sinais de anatomia complexa e utilizar técnicas de imagiologia adequadas (como o CBCT) para maximizar o sucesso desses casos.