Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial
XLIII Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) Oeiras, 13 a 14 de outubro de 2023 | 2023 | 64 (S1) | Page(s) 19
#043 Estomatite herpética severa por vírus Herpes simplex 1 durante corticoterapia sistémica
Article Info
Rev Port Estomatol Med Dent Cir Maxilofac
Volume - 64
Supplement - S1
Pages - 19
Go to Volume
Article History
Received on 13/10/2023
Accepted on 13/10/2023
Available Online on 13/10/2023
Keywords
Resumo
Introdução: Estima-se de que 67% da população se encontre infetada com o vírus Herpes simplex 1. Clinicamente, na infeção primária ocorre uma gengivoestomatite herpética, com múltiplas lesões orais dolorosas, associadas a adenopatias locais e sintomas sistémicos como febre, mal-estar e cefaleia. Na ausência de tratamento com antivirais, este quadro pode apresentar uma evolução de 7 a 18 dias. Após a primoinfeção o vírus fica alojado nos gânglios do sistema nervoso e nos casos de reativação os utentes apresentam lesões na região perioral e lábios, sendo raros os sintomas sistémicos. A transmissão vírica ocorre por secreções orais, por contacto direto com lesões ou através de fómites. Descrição do caso clínico: Mulher, 83 anos, com antecedente de glomerulonefrite membranoproliferativa secundária à síndrome de Sjögren e medicada com corticoide em altas doses (1mg/Kg/dia de prednisolona), foi observada pela Estomatologia por dor na cavidade oral. À observação, a utente apresentava múltiplas lesões centimétricas ulceradas recobertas por fibrina, coalescentes e dispersas por toda a cavidade oral, lábios e orofaringe. Adicionalmente, apresentava vesículas no palato mole e mucosas jugais. Após a pesquisa de DNA viral identificou-se infeção pelo vírus Herpes simplex 1. Admitiu-se assim o diagnóstico de estomatite herpética por reativação do vírus Herpes simplex 1, iatrogénica à imunossupressão causada pela corticoterapia em doses elevadas. A utente iniciou terapêutica com aciclovir endovenoso, realizou controlo da dor com anestésicos tópicos e seguiu cuidados rigorosos de higiene oral com clorohexidina e alimentação mole e fria, verificando-se resolução total do quadro em 12 dias. Paralelamente procedeu-se ao desmame da corticoterapia e troca do imunossupressor, prevenindo novas iatrogenias. Discussão e conclusões: São vários os fatores que podem precipitar uma recorrência da infeção herpética, nomeadamente a exposição solar, febre, stresse e principalmente os estados de imunossupressão, tal como descrito no presente caso clínico. Num doente imunocomprometido as reativações herpéticas são mais frequentes e severas, podendo apresentar lesões atípicas com extensão para camadas teciduais mais profundas, com risco de necrose e disseminação sistémica. O diagnóstico pode ser realizado através da pesquisa de DNA vírico ou por cultura e o tratamento no doente imunocomprometido consiste, além das medidas de conforto locais, na administração de aciclovir endovenoso (5 mg/Kg de 8/8h) durante 7 dias.