Resumo

Introdução: O Mieloma Múltiplo (MM) representa 1% das neoplasias. Caracteriza-se pela proliferação monoclonal de células plasmáticas na medula óssea (MO). Mais comum em homens, 60-70 anos. Caracteriza-se por hipercalcémia, insuficiência renal, anemia e lesões ósseas. As manifestações orais podem apresentar-se em estadios avançados e raramente como manifestação primária. Comuns na região posterior da mandíbula, manifestam-se por odontalgia, parestesia, mobilidade dentária, gengivorragia, ulcerações e fratura. O diagnóstico envolve a presença sérica/urinária de proteína-M, lesões ósseas; excesso de plasmócitos na MO. A terapia de suporte, radioterapia (RT), quimioterapia (QT) e transplantes autólogos de células hematopoiéticas são tratamento de eleição. Descrição do caso clínico: Mulher, 78 anos, com antecedente de MM IgG L diagnosticado em 05/2002. Em 2022 realizou PET-CT, que mostrou ´múltiplas lesões osteolíticas no esqueleto, compatíveis com doença mielomatosa medular/óssea em progressão´ (sem envolvimento mandibular). A 03/05/2023 recorre ao Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra por edema e dor da hemiface direita, com 1 semana de evolução, sem febre, disfagia, odinofagia ou dispneia. À observação: edema submandibular direita, sem trismus, tumefacção retromolar direita, duro-elástica dolorosa, não friável, aderente aos planos profundos, sem flutuação, com superfícies ulceradas na mucosa jugal direita, em relação à oclusão dentária de 48 e 17, mobilidade grau II de 48. Na Ortopantomografia não se observou alterações. Opta-se por exodontia de 48 e biópsia incisional da lesão. Assume-se provável lesão neoplásica. A doente é internada 07/06/2023 pela dor submandibular, faz TC maxilo-facial que mostra: ´lesão expansiva osteolítica no ramo ascendente direito da mandíbula”. Apesar do resultado anatomopatológico ter sido inconclusivo, assume-se provável proliferação tumoral mandibular. Inicia ciclo de RT. Discussão e conclusões: A invasão 2ª do tecido esquelético é característica do MM. Lesões orais osteolíticas em doentes com MM ocorrem sobretudo na mandíbula (8-15%), na região molar, ramo, ângulo e processo condilar. São inespecíficas e difíceis de diagnosticar, podendo ser confundidas com abcesso odontogénico, trauma, gengivite ou periodontite grave. É essencial examinar cuidadosamente a cavidade oral e estar alerta para lesões suspeitas. O diagnóstico diferencial é de extrema importância para o correto tratamento do doente.