Resumo

Introdução: O primeiro molar inferior tem como anatomia mais frequente duas ou três raízes independentes, com dois canais mesiais e um canal distal. No entanto pode apresentar várias variações anatómicas, nomeadamente a presença de uma terceira raiz que quando localizada em disto-lingual é denominada de radix entomolaris e quando localizada em mesio-vestibular, é denominada radix paramolaris. A prevalência destas variações anatómicas é relativamente baixa, no entanto o radix entomolaris pode atingir prevalências tão altas como 22% em populações asiáticas, sendo que em populações não asiáticas apresenta prevalências inferiores a 7%. Descrição do caso clínico: Paciente do género feminino, 51 anos, encaminhada para tratamento endodôntico do dente 36 com história de abcesso apical no terceiro quadrante, associado a dor à mastigação e sensação de ´dente alto´ nas duas semanas prévias, tendo sido medicada com antibiótico e antinflamatório, encontrando-se à data assintomática. O exame clínico deste dente revelou a presença de uma restauração extensa, sondagem periodontal normal, resposta “diferente” à percussão vertical e sem resposta ao teste ao frio com spray de cloreto de etilo. Radiograficamente verificou-se a presença de uma raiz com dois canais em mesial, com lesão apical associada, e de duas raízes independentes em distal, classificando- se como um radix entomolaris. Concluiu-se um diagnóstico de necrose pulpar com abcesso apical crónico, propondo-se a realização de tratamento endodôntico não cirurgico. Após a explicação do procedimento e o consentimento informado da paciente realizou-se todo o tratamento sob ampliação (lupas cirúrgicas 4.0x). O controlo clínico e radiográfico aos 12 meses demonstrou a resolução da lesão apical e a ausência de sinais ou sintomas de patologia associada a este dente. Discussão e conclusões: O Radix Entomolaris constitui uma anomalia anatómica pouco comum em pacientes não asiáticos (<7%), pelo que constituiu um achado clínico de notar. Um diagnóstico correto destas raízes supranumerárias pode evitar complicações ou a falta de identificação de canais adicionais durante o tratamento, permitindo adaptar a abordagem clínica à complexidade anatómica presente.