Resumo

Introdução: O cancro oral é uma patologia que apresenta alta incidência em todo mundo. Apesar dos progressos na área do diagnóstico e terapêutica, atualmente continua a ter um mau prognóstico e quando detetado, na sua maioria, já se encontra em estadios avançados da doença. É mais frequente nos homens, em idades superiores a 50 anos, sendo o tipo histológico mais comum o carcinoma pavimentocelular (CPC). Descrição do caso clínico: Homem, 59 anos, sem antecedentes pessoais de relevo, referenciado à urgência de Estomatologia por queixas de dor mandibular recorrente. Descrevia episódio de complicação pós-extração dentária de 47 e 48 há cerca de 1 ano, com má cicatrização da loca cirúrgica. Desde então, referia múltiplas idas ao serviço de urgência hospitalar por queixas de dor na região intervencionada, sempre considerado como deiscência de ferida e atraso na cicatrização pós-extração. A dor, inicialmente episódica, tornou-se constante nas últimas semanas, não cedendo a analgesia. Ao exame objetivo apresentava lesão exofítica ulcerada da mucosa do rebordo alveolar do 4º quadrante, estendendo-se desde a região distal de 45 até ao trígono retromolar homolateral. A lesão era friável e dolorosa ao toque. Não apresentava drenagem de conteúdo purulento e não se palpavam adenopatias cervicais. Em ortopantomografia, verificava-se lesão osteolítica de bordos irregulares do 4º quadrante, subjacente à lesão descrita. Realizou- -se biópsia incisional que revelou CPC invasivo bem diferenciado. O diagnóstico definitivo foi de T4 N0 por invasão óssea. Realizou esvaziamento ganglionar cervical radical direito, pelviglossomandibulectomia segmentar direita com reconstrução com retalho livre osteomiocutaneo peroneal e radioterapia complementar. Discussão e conclusões: O presente caso destaca a relevância da anamnese e exame objetivo no rastreio do cancro oral. A característica recidivante da lesão, com dor recorrente associada, teve um peso preponderante na suspeição clínica que motivou a realização de biópsia. O facto de as queixas serem referidas ao local de uma extração recente terá sido preponderante no atraso do diagnóstico. Fica a dúvida se as queixas ou patologia que levaram à extração teriam origem na presença de CPC ou se o mesmo se desenvolveu posteriormente na loca da extração. A suspeição clínica de CPC é de extrema importância para o diagnóstico precoce que pode melhorar consideravelmente o prognóstico e reduzir a morbilidade associados à doença.