Resumo

Introdução: A doença de Riga-Fede é uma patologia benigna pouco frequente. Carateriza-se por ulceração traumática da mucosa oral causada pela presença de dentes natais ou dentes neonatais. São definidos como dentes natais, os dentes presentes na arcada aquando do nascimento. Os dentes que erupcionam durante o primeiro mês de vida são definidos como dentes neonatais. Os dentes natais e neonatais são raros, estimando-se uma incidência de 1:2000 e 1:35000, respectivamente. Os incisivos inferiores são os mais frequentemente envolvidos, seguidos dos incisivos superiores. A doença de Riga-Fede está mais associada a ulceração do ventre da língua (60%) por trauma repetitivo da língua sobre os incisivos inferiores, podendo também estar envolvidos os lábios, gengiva, palato ou mucosa vestibular. Clinicamente o lactente apresenta maior irritabilidade causada pela dor e dificuldade na alimentação com consequente má progressão ponderal. O tratamento de eleição para resolução completa e definitiva é a extração dentária, contudo pode-se optar por um tratamento mais conservador como a ameloplastia. Descrição do caso clínico: Lactente de 4 meses de idade, masculino, com antecedentes de prematuridade, forame oval patente e refluxo gastro-esofágico foi encaminhado à urgência de Estomatologia do HSM por lesão no ventre da língua com 2 semanas de evolução que condicionava a adequada amamentação. À observação intra-oral apresentava úlcera com cerca de 8mm de maior eixo, na linha média da superfície ventral da língua, não sangrante e dente neonatal em posição de 7.1 com bordo cortante e mobilidade. Sob anestesia tópica, procedeu-se à extração do dente neonatal. No follow- up, 4 semanas após extração, apresentava cicatrização completa da mucosa do ventre da língua e da loca de extração. Discussão e conclusões: A doença de Riga-Fede faz diagnóstico diferencial com outras patologias que envolvem ulcerações da mucosa oral, como infecções virais, fúngicas ou bacterianas, doenças imunológicas ou doenças neoplásicas. A escolha do tratamento deve ser ponderado caso a caso. Na presença de mobilidade dos dentes natais ou neonatais, resultando em risco de aspiração ou deglutição para o lactente ou se existir comprometimento da adequada alimentação e progressão ponderal do lactente, a extração dentária é o tratamento de eleição, caso contrário a ameloplastia será o tratamento mais adequado por ser menos invasivo e mais conservador.