Resumo

Introdução: A fenda lábio- palatina é a mais prevalente malformação congénita da cabeça e pescoço afetando cerca de 14:10000 nados vivos. O tratamento inicia- se desde o nascimento e incluiu comummente uma combinação de abordagens cirúrgicas, ortopédicas e ortodônticas. As anomalias dentárias são mais frequentes em doentes portadores de fenda lábio-palatina do que a população em geral, o que promove um impacto de longo prazo na anatomia facial e na autoestima do doente. Estudos demonstraram uma associação entre a severidade destas anomalias e a severidade da fenda. As anomalias mais frequentes são hipodontia, dentes supranumerários, alteração da forma e tamanho dentário, defeitos de esmalte, erupção ectópica ou dentes impactados. O presente trabalho pretende apresentar um caso clínico de um doente portador de fenda lábio- palatina unilateral submetido a tratamento ortodôntico para tração dos incisivos centrais impactados. Descrição do caso clínico: Um doente do sexo masculino com 11 anos, portador de fenda lábio-palatina unilateral esquerda, foi encaminhado para a consulta do Instituto de Ortodontia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O doente apresentava uma alteração de tamanho do dente 22, classe II molar bilateral, classe II esquelética (ANB- 8.º) e atraso na erupção dos quatro incisivos superiores com uma impactação do 11 e 21. O tratamento iniciou-se com a colocação de uma barra palatina como método de ancoragem. Seguidamente realizou- se a cirurgia de exposição do dente 11 e 21 e a sua tracção com aparatologia fixa Roth 0,018. No final do tratamento obteve- se uma oclusão estável com uma relação de classe I molar e canina. O doente irá reabilitar o dente 22 através da dentisteria operatório de modo a ficar com proporções semelhantes ao seu homólogo. Discussão e conclusões: Doentes com fenda lábio-palatina podem apresentar alterações no padrão eruptivo. No caso de impactação de dentes na zona da fenda, o tratamento multidisciplinar deve ser planeado cuidadosamente desde o início de forma a antecipar as dificuldades inerentes ao movimento dentário nesta zona mais debilitada. O tratamento multidisciplinar devidamente planeado permite ultrapassar estas dificuldades e atingir melhorias a nível oclusal, estético, funcional e subsequentemente melhorar a qualidade de vida do doente.