Resumo

Introdução: O cancro da cavidade oral está associado a factores de risco como tabagismo, consumo de álcool, mascar noz de bétel, nutrição, infecções e imunossupressão. As doenças inflamatórias intestinais e sua terapêutica, inserem- se neste último grupo. No entanto, existem ainda poucos artigos comprovando a associação directa entre Doença de Crohn (DC) e aumento de risco de cancro da cavidade. Descrição do caso clínico: Descrevemos o caso de L. F., sexo masculino, 58 anos, com antecedentes pessoais de Doença de Crohn medicada com azatioprina 125 mg/dia, hérnia do hiato e doença de refluxo gastrointestinal sob omeprazol 20 mg/dia. Doente referenciado a Estomatologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) por lesão leucoeritroplásica erosiva da gengiva adjacente a 3.7 de 4mm e lesão eritroplásica sangrante da mucosa jugal esquerda dolorosa de 3mm de maior diâmetro, com cerca de três meses de evolução. Após realização de biópsia que revelou presença de Carcinoma Pavimentocelular (CPC) invasivo bem diferenciado e displasia de alto grau (respectivamente), o doente foi submetido a excisão de lesão com mandibulectomia marginal em bloco. A avaliação histopatológica de peça revelou presença de CPC bem diferenciado multifocal, em vigilância até hoje. Discussão e conclusões: Têm surgido vários estudos que parecem demonstrar uma associação positiva entre a incidência de cancro oral em doentes com diagnóstico prévio de Doença de Crohn. O papel da terapêutica com azatioprina neste processo é ainda menos bem compreendido. Dado a prevalência da DC e melhoria da morbilidade e mortalidade destes doentes com as terapêuticas actuais, são necessárias investigações mais relevantes.