Resumo

Introdução: A patologia óssea inflamatória é um grupo de doenças com morbimortalidade elevada. Apesar do declínio de casos, a Osteomielite (OM) é um motivo frequente de consulta em Medicina Oral. Descrição do caso clínico: Mulher, 66 anos, saudável, sem antecedentes de radioterapia da cabeça- pescoço e terapêutica com anti- reabsortivos/anti?angiogénicos, recorreu ao Serviço de Urgência por tumefação parassinfisária mandibular. Na anamnese descreveu extração recente de 35, dor e hipostesia no território do nervo mentoniano esquerdo. Na observação apresentou edema da face à esquerda, eritema, flutuação central e fistulização intra- oral com drenagem purulenta na região pré- molar do 3.º quadrante. Analiticamente com elevação dos parâmetros inflamatórios. Foi internada e acompanhada por Cirurgia Maxilo? Facial e Estomatologia para esclarecimento etiológico e orientação terapêutica. Efetuou- se drenagem extra? oral do abcesso e iniciou antibioterapia endovenosa – Clindamicina 600 mg e Metronidazol 500 mg, 8/8h. A microbiologia não foi conclusiva. A ortopantomografia e radiografia intraoral revelaram 34 com obturação intracanalar incompleta e reação periapical, imagem radiolucente de limites mal definidos e trajeto fistuloso com origem em 35, raiz retida de 36 e implante em 37. A tomografia computorizada da cabeça?pescoço mostrou lesão lítica óssea com perfuração da cortical vestibular em 35 e extensão a 34, sem envolvimento do implante em 37. Admitiu- se OM aguda. Foi submetida a desbridamento cirúrgico local com extração de 34. Apresentou posterior evolução favorável. Discussão e conclusões: A OM é uma condição inflamatória rara com progressão aos canais de Havers, Volkmann e periósteo. A sua localização é mais frequente na mandíbula pela elevada densidade e diminuta vascularização óssea. Os fatores predisponentes podem ser locais ou sistémicos, sendo a causa predominantemente odontogénica. A OM aguda caracteriza- se por edema, dor, supuração, febre e trismus, de evolução inferior a 1 mês. O tratamento cirúrgico associado a antibioterapia e anti?inflamatórios tem demonstrado eficácia no controlo da doença. Neste caso, pareceu- nos provável uma OM aguda em doente saudável de foco em 35 e progressão mesmo após a extração, embora não se exclua OM em 34. Os profissionais de saúde oral assumem um papel importante no diagnóstico atempado, uma vez que a tradução imagiológica pode ser tardia, numa patologia que em alguns casos se revela funcional e esteticamente catastrófica.