Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial
XLI Congresso Anual da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) 7, 8 e 9 de outubro de 2021 | 2021 | 62 (S1) | Page(s) 18
Casos Clínicos
#042 Disfagia grave por Sarcoma de Kaposi oral
a Serviço de Estomatologia – Centro Hospitalar de Setúbal, Hospital São Bernardo
Article Info
Rev Port Estomatol Med Dent Cir Maxilofac
Volume - 62
Supplement - S1
Casos Clínicos
Pages - 18
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Article History
Received on 07/11/2021
Accepted on 07/10/2021
Available Online on 07/11/2021
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Resumo
Introdução: O Sarcoma de Kaposi (SK) é a principal neoplasia maligna na infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). Hoje em dia, a sua apresentação clínica é incomum, pela introdução da terapêutica anti? retroviral. Dos doentes com SK é estimado que cerca 70% apresentem manifestações orais, muitas delas com grande impacto clínico no aparelho estomatognático. Descrição do caso clínico: Doente do sexo masculino, 43 anos de idade, caucasiano foi referenciado à consulta de Estomatologia por lesão ulcerada na mandíbula à esquerda, com odor fétido e dor, com comprometimento da ingestão de sólidos e líquidos. Como antecedentes pessoais identifica? se infeção por VIH diagnosticada há 14 anos não sendo cumpridor da terapêutica anti?retroviral há 7 anos. Ao exame estomatológico identificou?se no uma lesão exofítica de 7 cm de maior diâmetro de consistência elástica, coloração vermelho?acastanhada, no 3.º quadrante, justa dente 3.3, associado a exsudado purulento abundante. Adicionalmente observou?se várias outras lesões idênticas, de menor diâmetro, no 1.º e 2.º quadrante e palato. A TC maxilo? facial descreve massa de partes moles da hemiface esquerda com crescimento na face bucal da cavidade oral e adjacente ao rebordo alveolar da mandibula esquerda, com associados sinais de erosão óssea. Realizou?se biópsia incisional das várias lesões cuja análise histopatológica revelou SK com ulceração. Da restante avaliação médica, a TC torácica evidenciou achados compatíveis com SK pulmonar e a avaliação analítica mostrou CD4 143 células/ mcL (7%) e CV VIH?1 5600 cópias/mL (log10 4,75). O tratamento em regime de internamento consistiu em piperacilina?tazobactam e quimioterapia com doxorrubicina associada a radioterapia para citoredução, verificando?se uma melhoria clínica significativa com redução das dimensões da massa oral. Discussão e conclusões: O SK pode acometer qualquer mucosa, mas o seu desenvolvimento na cavidade oral pode causar lesão nos tecidos locais, dor, interferência no uso de prótese ou nas funções oromaxilares. Neste caso, a disfagia grave teve repercussões negativas no estado nutricional, na adesão à terapêutica e na qualidade de vida do doente. O SK oral precisa ser diferenciado clinicamente de outras entidades, como o granuloma piogénico, o hemangioma ou a angiomatose bacilar, e por isso, lesões orais sugestivas devem ser biopsiadas e pacientes com SK diagnosticado por biópsia devem ser testados para VIH.