Resumo

Introdução: Os tumores odontogénicos dos maxilares incluem uma miríade de entidades cujo comportamento é maioritariamente benigno. No entanto, alguns tumores como os ameloblastomas e queratoquistos odontogénicos podem ter um crescimento agressivo e risco significativo de recorrência. Estes quistos, sobretudo os mais extensos, exigem um tratamento cirúrgico mais radical. Caracterizados imagiologicamente como lesões osteolíticas radiotransparentes multiloculares ou uniloculares podem, ainda, apresentar uma maior densidade que outros tumores odontogénicos nas tomografias. No entanto, estas características não são patognomónicas e podem observar? se em outras lesões com comportamentos mais benignos, dificultando a delineação da abordagem terapêutica. O diagnóstico definitivo é sempre dado pelo estudo anátomo? patológico da peça operatória. Porém, em alguns tumores de grandes dimensões ou de diagnóstico duvidoso pode ser útil realizar uma biópsia incisional prévia para planeamento cirúrgico. Descrição do caso clínico: Um homem de 43 anos com abaulamento da mucosa vestibular na sínfise realiza uma tomografia que identifica uma lesão radiotransparente osteolítica do 3.º quadrante e conteúdo com densidade de partes moles, compatível com ameloblastoma intraósseo multiquístico. Após ser proposto para uma hemi?mandibulectomia com reconstrução com retalho fibular, o doente procurou uma segunda opinião. Decidiu? se fazer uma biópsia incisional cujo estudo anátomo? patológico diagnosticou um queratoquisto odontogénico. Posteriormente realizou? se a exérese da lesão com aplicação de solução de Carnoy. O estudo anátomo? patológico da peça operatória diagnosticou um quisto radicular, mantendo? se o doente em seguimento apertado e sem recidiva. Discussão e conclusões: O tratamento cirúrgico de tumores odontogénicos visa erradicar a lesão, preservando a maior quantidade possível de tecido são. A visão cirúrgica mais conservadora aceita as recorrências como um resultado tolerável, na tentativa de preservar a maior quantidade possível de tecido normal. A visão mais agressiva opta por uma atitude mais invasiva para prevenir recorrências, advogando que uma ressecção única com reconstrução é mais benéfica, em termos físicos e emocionais para o doente, que múltiplas intervenções cirúrgicas. O plano cirúrgico deve apoiar? se em estudos anátomo?patológicos e de imagem, com ênfase no primeiro em caso de dúvida, a fim de oferecer o resultado mais eficaz e conservador possível ao doente.