Resumo

Objetivos: Identificar a prevalência de lesões da mucosa oral (LMO) da população idosa da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto. Materiais e métodos: Estudo-piloto, clínico e exploratório, desenhado como descritivo, transversal e quantitativo, realizado a todos os indivíduos idosos que frequentaram a consulta de medicina dentária da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, para tratamentos dentários de rotina, no período entre Janeiro e Abril de 2018, excluindo todos aqueles que vinham especificamente para a consulta de medicina e patologia oral. A prevalência de LMO foi determinada através de uma amostra de 199 indivíduos. O diagnóstico foi realizado por um único examinador e validado por um segundo examinador, especialista em medicina e patologias orais. Resultados: 21,2% dos indivíduos tinham idade igual ou superior a 65 anos com idade média de 71,4 anos. 104(52,3%) indivíduos foram diagnosticados com uma ou mais LMO, tendo sido identificadas um total de 143 lesões. Dos 104 indivíduos com LMO, 62,5% apresentavam apenas uma lesão, 28,9% duas e 8,6% três diagnósticos clínicos diferentes. A prevalência de LMO foi maior nos homens (82/107:76,6%) do que nas mulheres (62/92:67,4%). Dezanove entidades clínicas foram identificadas, sendo as três mais prevalentes o hemangioma/ malformação vascular(14,1%) a queratose friccional(13,1%) e o líquen plano oral(11,2%). Cerca de um quarto(25,6%) dos doentes referem ter tido quadros clínicos compatíveis com infeção pelo vírus herpes simplex mostrando maior prevalência nas mulheres (p=0.009), e 7% infeção pelo vírus herpes zóster ou úlceras orais recorrentes. Quase 20% das lesões da mucosa oral da população idosa são provocadas por prótese dentária removível. Conclusões: O fato de um em cada dois indivíduos idosos da FMDUP apresentar uma LMO enfatiza a importância de educar os Médicos Dentistas para que se tornem cada vez mais aptos a identificar as diversas LMO do idoso, como se diagnosticam e tratam. São indispensáveis mais estudos epidemiológicos na população europeia utilizando critérios de diagnóstico corretos e classificações reconhecidas por consensos internacionais. Sem estudos epidemiológicos não existe forma de gerar hipóteses etiológicas e medir a frequência, padrões da doença e/ou fatores de risco ao nível da nossa sociedade, essenciais para decisões governamentais acerca dos cuidados de saúde oral e implementação de programas de prevenção, o que exige conhecer a situação e as circunstâncias da população do país.