Resumo

Objetivos: Os indivíduos de origem chinesa constituem a quinta maior comunidade imigrante em Portugal. Estes indivíduos têm antecedentes sociais e culturais diferentes dos portugueses, assim considerou-se interessante recolher dados epidemiológicos sobre a saúde oral desta comunidade. Os objetivos deste estudo foram: a) Caracterizar esta população relativamente a comportamentos e atitudes relacionados com a saúde oral; b) Relacionar os comportamentos e atitudes com a idade, sexo, nível de instrução e número de anos de residência em Portugal. Materiais e métodos: Foi realizado um estudo observacional e transversal. A recolha de dados foi realizada entre novembro de 2017 e fevereiro de 2018, através de um questionário. A divulgação do questionário foi realizada on-line (rede WeChat) e em papel (locais frequentados pela comunidade chinesa). Foi efetuada a estatística descritiva dos dados e utilizado o teste do qui-quadrado (α=0,05). Resultados: A amostra foi constituída por 218 indivíduos. A escovagem bidiária e o uso diário de fio dentário foram reportados por 75,2% e 11,1% dos participantes, respetivamente. Cerca de metade (47,9%) dos participantes referiu não ter visitado o dentista nos últimos 12 meses, sendo a língua (11,9%) e a falta de confiança nos dentistas locais (5,6%) barreiras referidas para a não realização. A maioria (85,3%) tinha mais de 20 dentes presentes na cavidade oral, 7% usava prótese removível e 8,7% aparelho ortodôntico. Quase metade (46,3%) dos participantes referiu a China como local preferencial para realizar tratamentos dentários. Os participantes que residiam há mais tempo em Portugal referiram menor preferência para ir tratar os dentes à China. Os indivíduos mais velhos tinham menos dentes e apresentavam menor satisfação com o estado de saúde dos dentes. As mulheres referiram escovar os dentes com mais frequência e mais hipersensibilidade dentária. Os participantes com maior nível de instrução referiram maior frequência de tratamento ortodôntico, maior satisfação com o estado dos dentes, maior frequência de visitas ao dentista e maior frequência de destartarizações. Conclusões: Apesar das limitações da amostra, este estudo permitiu obter informações sobre a comunidade chinesa adulta, residente em Portugal. Este conhecimento é importante para a criação e implementação de medidas de promoção da saúde oral, adaptadas às necessidades e características socioculturais desta população.