Resumo

Introdução: O lábio inferior é a região anatómica mais atingida por queilite actínica, condição potencialmente maligna associada à ação recorrente e prolongada da exposição solar, sobretudo em homens expostos durante a atividade laboral. Tabaco e álcool são também carcinogénios comuns. A progressão é habitualmente lenta, com áreas atróficas no vermelhão do lábio inferior que se tornam descamativas. Podem surgir úlceras crónicas, que tendem a evoluir para carcinoma epidermoide, que se apresenta sob a forma de lesão indolor, dura, ulcerada e exsudativa. A excisão da lesão e reconstrução cirúrgica é a principal opção terapêutica e constitui um desafio que impõe dois requisitos principais: função e estética. Descrição do caso clínico: Doente do sexo masculino, de 55 anos, caucasiano, fumador, com antecedentes de hepatite C crónica tratada e de toxicodependência para opiáceos e canabinóides. Referenciado pelo médico de família à consulta de Medicina Oral do serviço de Estomatologia do Centro Hospitalar Lisboa-Norte, em Outubro de 2017, por lesão do lábio inferior com vários meses de evolução. O doente apresentava uma lesão ulcerada queratinizada, no lábio inferior, à esquerda, sem continuidade com a comissura labial, com 1 cm de maior eixo, assintomática. Perante o quadro clínico sugestivo de queilite actínica, realizou-se biópsia incisional em Dezembro de 2017. O exame anátomo-patológico revelou focos de displasia epitelial ligeira a moderada. Por falta de comparência a várias consultas, o doente só foi observado em Maio de 2018, com agravamento do quadro clínico - lesão ulcerada paramediana esquerda do vermelhão do lábio inferior, rígida à palpação e área de hiperqueratose com extensão contralateral. Definiu-se como plano de tratamento, excisão em cunha do lábio inferior à esquerda, com vermilionectomia e avanço da mucosa labial, sob anestesia geral, que se realizou em Junho de 2018. O exame anátomo-patológico revelou focos de displasia ligeira a moderada, com margens livres de lesão. Na avaliação pós-operatória, verificou-se função labial e estética mantidas. Recomendou-se aplicação regular de protetor solar e hidratante labial. Discussão e conclusões: A vermilionectomia é o tratamento de eleição da queilite actínica com displasia moderada ou grave, uma vez que é curativa e apresenta bons resultados funcionais e estéticos. É fundamental a vigilância clínica regular.